O conceito de robôs biohíbridos consiste em máquinas combinadas com materiais sintéticos e orgânicos. É algo extremamente novo e que se diferencia substancialmente da ideia de robôs que temos: entidades puramente mecânicas. Nesse contexto, ainda em 2014, pesquisadores da Universidade de Illinois desenvolveram um robô microscópico capaz de nadar.

Embora essa conquista possa ter passado despercebida por muitos, o que realmente destacou essa criação foi o método inovador utilizado: células musculares cardíacas derivadas de ratos foram incorporadas à estrutura do robô. Esse feito representou um marco na robótica, com a criação de um dos primeiros robôs biohíbridos.

Dois anos após a criação dos nadadores biohíbridos, cientistas de Harvard expandiram essa ideia para desenvolver o primeiro “animal” biohíbrido: uma arraia de 16 milímetros. Essa criatura, feita com um corpo de elastômero, um esqueleto de ouro e músculos formados por células de rato, deslizou pela água com movimentos suaves e coordenados, movida e guiada por luz. Essa inovação abriu novas possibilidades na interface entre biologia e tecnologia.

Discussão ética sobe os robôs biohíbridos

Os robôs biohíbridos representam uma fascinante fusão entre o biológico e o artificial. Esses sistemas podem utilizar células musculares, neurônios para controlar movimentos e células sensoriais como sensores táteis. Em alguns casos, eles até se baseiam diretamente em organismos vivos, aproveitando milhões de anos de evolução para fornecer aos robôs capacidades como autocura, maior adaptabilidade e sensores de alta precisão.

Contudo, o Dr. Rafael Mestre da Universidade de Southampton, especialista em tecnologias emergentes, recentemente se uniu a colegas do mundo todo para refletir sobre as ramificações éticas dos robôs biohíbridos e nos convidam a imaginar um futuro onde

[…] sistemas biohíbridos evoluíram a tal ponto que robôs de tamanho real podem interagir com humanos e realizar tarefas complexas de maneira incrivelmente orgânica, auxiliados por tecido muscular e junções neuromusculares. Com o passar do tempo, esses robôs se tornam cada vez mais sofisticados, integrando diferentes tipos de tecidos biológicos… À medida que sua complexidade aumenta, as pessoas começam a questionar se eles podem sentir dor, se são sencientes e qual deve ser a forma adequada de interagir com eles.”

Esse cenário levanta uma questão crucial: em que momento esses bio-robôs passam a ser mais semelhantes a seres vivos do que a máquinas? As primeiras versões podem começar com apenas algumas partes biológicas, mas à medida que mais componentes não vivos são substituídos por tecidos biológicos, os robôs se tornam cada vez mais orgânicos.

Possibilidades

Imagem: Canva

Ainda que esse cenário pertença ao domínio da ficção científica, há outra possibilidade que está se aproximando da realidade. Pesquisadores preveem a criação de interfaces humano-computador que permitam o controle de membros artificiais usando tecido nervoso existente.

No futuro próximo, será possível ver braços robóticos biohíbridos que utilizam “músculos reais e adaptáveis” derivados de animais vivos, além de órgãos biohíbridos que superam as capacidades dos nossos próprios órgãos. Embora esses avanços possam ser uma bênção para pacientes que precisam de transplantes e próteses, a tecnologia de ponta pode acabar sendo acessível apenas para aqueles que podem pagar por ela, criando novas disparidades sociais.

“Uma história de sucesso em vez de uma tragédia”

Com base nos avanços na robótica biohíbrida, há a possibilidade de que, no futuro, cientistas sejam capazes de construir um ser vivo complexo a partir do zero. Esse desenvolvimento, que une componentes biológicos e artificiais, poderia revolucionar nossa compreensão e criação de organismos.

Entretanto, para transformar esses robôs biohíbridos inovadores em uma história de sucesso, ao invés de uma tragédia potencial, é essencial que comecemos a considerar as implicações éticas e sociais desde já. Mestre e sua equipe enfatizam a importância de nos prepararmos para essas mudanças, recomendando que abordemos as consequências e os desafios dessa tecnologia emergente com a devida cautela e reflexão.