Uma cerveja com levedura de 3 milênios e receita de papiro egípcio foi fabricada por Dylan McDonnell no quintal de sua casa. O homem, que tem a cerveja como hobbie, mora em Utah nos Estados Unidos – nada a ver com os egípcios, muito embora tenha usado uma receita de cerveja da época do Egito Antigo – nada menos do que meros 3500 anos de idade.
“É difícil para mim transmitir aos outros o quanto essa coisa toda me impressionou”, disse McDonnell ao The Salt Lake Tribune. “Porque foi só, tipo, coisa legal atrás de coisa legal. E isso te conecta com o passado, certo? Tipo, enquanto fazia isso, eu me lembro de preparar cerveja e apenas olhar para o sol e ficar tipo, ‘Alguém estava literalmente fazendo isso 3.000 anos atrás, com essa mesma receita’.”
Cervejeiros costumam gostar de inovar, fabricando cervejas com diversas variações possíveis – defumada, com polpa de frutas, com diversos tipos de leveduras, com resíduos de alimentos e águas residuais, entre outros diversos possíveis testes. Há também as tentativas de recriar cervejas de diversas civilizações pelo planeta.
A cerveja com levedura de 3 milênios e receita de papiro egípcio
A inspiração para a ideia que gerou uma cerveja com levedura de 3 milênios e receita de papiro egípcio ocorreu durante a pandemia, quando viu notícias de um homem que fez massa azeda utilizando uma levedura de 4500 anos e se interessou pela história, mas na área da cerveja. Caso você não saiba, assim como o pão a cerveja passa por fermentação durante seu processo de fabricação.
Dessa maneira, McDonnell passou a pesquisar um pouco, e começou lendo o Papiro do Eber, um texto egípcio que data de aproximadamente 1550 a.C. O texto contém uma série de receitas medicinais (cerca de 800), e McDonnell separou 75 receitas sobre cerveja.
Com as receitas em mão, ele montou uma planilha com todos os ingredientes. No total, eram 120 ingredientes presentes em todas as receitas. Além dos ingredientes, o texto continha as proporções necessárias para a fabricação da cerveja, o que foi muito útil para o cervejeiro.
Nessa planilha, ele conseguiu filtrar os itens mais comuns: bálsamo egípcio (tâmaras do deserto), mel Sidr iemenita, figos sicômoro, cominho preto, bagas de zimbro, uvas passas douradas israelenses, alfarroba e incenso.
Os figos sicômoro eram a parte mais difícil da lista de se encontrar. Entretanto, uma amiga do cervejeiro estava trabalhando em uma reconstrução digital do Templo de Karnak, no Egito. Ela ajudou ele a encontrar uma família egípcia que cultivava os figos sicômoro há gerações.
Assim, com os ingredientes em mãos, ele optou por utilizar como grãos básicos para a produção, o trigo roxo egípcio e o trigo emmer.
Em busca do fermento, ele queria utilizar alguma levedura antiga.
Com a empresa alemã Primer’s Yeast, que trabalha com cepas antigas de leveduras, ele conseguiu uma amostra de uma levedura retirada em 2015 de uma ânfora encontrada em Israel.
“Dylan nos escreveu com tanta empolgação com nosso projeto, decidimos trabalhar com [ele] não apenas por causa disso, mas também porque queríamos mostrar ao público como é fácil criar em casa e quão profundo podemos ‘brincar’ com nossas cepas”, disse Itai Gutman, fundador da empresa.
Essa levedura havia sido utilizada por filisteus para fabricar cerveja cerca de 850 a.C. Apesar da idade, a levedura estava viva, já que elas podem ficar dormentes por muito tempo até encontrar um ambiente propício para a reprodução.
“Foi de longe a parte mais importante do processo”, disse McDonnell ao New York Times. “Para mim, esta teria sido apenas mais uma cerveja divertida que fiz e que não é digna de nota se não incluísse o fermento.”
A cerveja tem um gosto azedo, com um gosto de vinho de hidromel e sabor floral, segundo McDonnell. Pela falta do lúpulo, ela tem um gosto bem diferente das cervejas típicas. Com um teor de álcool de 5%, ele fabricou 10 litros da cerveja e não colocou o lote de cerveja com levedura de 3 milênios e receita de papiro egípcio à venda.