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Os cientistas conseguiram provar que os antigos romanos utilizavam uma planta narcótica, mas ainda não determinaram por qual motivo. As hipóteses consistem no uso como método para alívio de dores e como substância que causa prazer. Nesse panorama, surge uma terceira possibilidade na qual as duas hipóteses anteriores são aceitas; ou seja, os romanos utilizavam a planta para ambas situações. O estudo foi publicado na revista Antiquity.

A planta narcótica em questão é bastante conhecida pelos biólogos

O meimendro negro (Hyoscyamus niger) é nativa da Europa e da Ásia, e está relacionada a plantas como o tabaco e a beladona, que é altamente venenosa. Devido a essa ligação com plantas tóxicas, não é surpreendente que o meimendro negro possa ser usado tanto como narcótico quanto como substância que altera a mente.

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Desse modo, os arqueólogos também conhecem bem o meimendro negro, pois ele foi encontrado em muitos sítios arqueológicos, inclusive em ruínas romanas.

Por um lado, isso pode indicar que os romanos antigos usavam o meimendro negro por suas propriedades especiais. Por outro lado, como a planta cresce naturalmente na região, as sementes podem ter se espalhado sem intervenção humana.

Recentemente, porém, uma descoberta significativa foi feita: um conjunto de sementes de meimendro negro foi encontrado escondido dentro de um osso oco, fornecendo uma evidência clara de que o seu uso era intencional.

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A Dra. Maaike Groot da Freie Universität Berlin e principal autora do estudo afirma: “Como a planta pode crescer naturalmente dentro e ao redor de assentamentos, suas sementes podem acabar em sítios arqueológicos naturalmente, sem intervenção humana […] É por isso que ela é geralmente classificada entre plantas selvagens/ervas daninhas em estudos arqueobotânicos.”

Um esconderijo incomum

Osso oco com sementes de meimendro negro. Imagem: Groot et al (2024)

O recipiente de osso encontrado, que era um fêmur oco de ovelha ou cabra selado com alcatrão de casca de bétula, continha centenas de sementes de meimendro negro. Essa descoberta, juntamente com uma flor de meimendro negro encontrada nas proximidades, indica que essa planta era muito importante para os habitantes de Houten-Castellum.

A presença do meimendro negro em conjunto com outras plantas medicinais em locais arqueológicos reforça a ideia de que seu uso era intencional. Por exemplo, no hospital da fortaleza romana em Neuss, na Alemanha, sementes de meimendro negro foram encontradas junto com plantas como feno-grego, verbena, centáurea, erva-de-são-joão, endro e coentro. Isso indica que essas plantas eram usadas sistematicamente por suas propriedades curativas.

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“Nosso estudo contribui para a discussão sobre como distinguir entre uma erva daninha que naturalmente acaba em conjuntos arqueobotânicos e uma planta usada intencionalmente por pessoas […] Argumentamos que futuras descobertas de meimendro negro devem ser estudadas levando em conta o contexto da descoberta e sua relação com outras plantas medicinais”, Groot acrescenta.

Relação entre humanos e plantas

Próximo ao osso, foram descobertos um esqueleto parcial de vaca e fragmentos de uma pedra de moer, levando os especialistas a acreditarem que esses itens faziam parte de um ritual de abandono, onde objetos são deixados para trás de maneira intencional durante o abandono de um local ou estrutura. Isso indica que o depósito das sementes de meimendro negro tinha um propósito ritualístico.

Autores clássicos como Plínio, o Velho, mencionaram as propriedades medicinais do meimendro negro, sugerindo que a planta era usada para fins terapêuticos no mundo romano, em vez de recreativos.

Embora ainda não se possa determinar com precisão como e por que a planta era utilizada, a descoberta em Houten-Castellum confirma que ela foi de fato empregada pelos antigos. Essa descoberta evidencia a complexa relação entre os seres humanos e as plantas, ilustrando como as sociedades antigas exploravam os recursos naturais para diversos fins.

Hoje em dia, o meimendro negro é frequentemente visto como uma erva daninha, mas ele pode fornecer valiosas informações sobre as práticas médicas e rituais de culturas antigas.