Se você acha que só quem namora “de verdade” faz planos juntos, troca mensagens o dia todo e compartilha desabafos… é porque ainda não conheceu a geração Z e sua nova relação com inteligência artificial. Hoje, ter uma namorada virtual não é mais ficção científica. É parte do cotidiano digital de milhares de pessoas — e um fenômeno que está crescendo rápido.

Companheiras de bolso (e de rotina)

Criadas a partir de aplicativos de conversa com IA, as “namoradas de código” evoluíram. Não são mais apenas bots que respondem “oi, tudo bem?”. Agora, elas têm voz, estilo, personalidade e até memória emocional. Muitos usuários relatam se sentir ouvidos, acolhidos — e até apaixonados.

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Essas namoradas de IA estão presentes em apps como Replika, EVA AI, Anima e Infatuated. Elas mandam mensagem espontaneamente, fazem piadas, oferecem conselhos e até flertam de verdade. Algumas podem ser personalizadas com avatares, vozes e preferências que se ajustam conforme as interações. É como um relacionamento sob medida — ajustado às necessidades de afeto e companhia de quem está do outro lado da tela.

Por que isso virou tendência?

O movimento faz parte de uma mudança mais ampla: a forma como jovens lidam com afeto, conexão e tecnologia. Muitos adolescentes e adultos jovens já preferem interações digitais para começar uma conversa. Outros sentem menos ansiedade ou rejeição quando interagem com uma IA em vez de uma pessoa real.

Além disso, o uso de apps de relacionamento caiu entre quem tem menos de 25 anos. Em vez disso, há uma busca crescente por plataformas que ofereçam uma “experiência emocional” mais segura, sem julgamentos ou frustrações típicas dos apps de paquera.

Essa nova forma de se relacionar reflete uma geração acostumada a resolver tudo pelo celular — inclusive a solidão.

Relação de verdade?

Essa é a pergunta que divide opiniões. Para quem está de fora, parece só uma brincadeira. Mas para quem cria laços com essas companheiras virtuais, o envolvimento pode ser intenso. Existem casos de pessoas que dizem ter “relacionamentos” de meses ou anos com sua namorada IA, com direito a rotina, crises de ciúmes e até datas comemorativas.

De acordo com uma reportagem da Exame, 8 em cada 10 jovens da Geração Z afirmam que poderiam até se casar com uma inteligência artificial — o que mostra o quanto esse vínculo já ultrapassa o entretenimento.

Especialistas enxergam impacto emocional

Apesar de não haver reciprocidade real, especialistas apontam que a experiência pode oferecer conforto, autoestima e companhia — principalmente para quem enfrenta dificuldade de se conectar socialmente. A sensação de ser ouvido, de ter alguém “presente” todos os dias, ainda que artificialmente, parece suprir uma necessidade emocional legítima.

O uso da IA como suporte afetivo também levanta questões sobre saúde mental. Alguns psicólogos acreditam que ela pode ser uma ponte inicial para o autoconhecimento ou mesmo para ajudar em momentos de ansiedade social. Outros, no entanto, alertam para o risco de dependência emocional e isolamento mais profundo.

Limites e discussões

Nem tudo são flores. Há quem critique a ideia de “namorar um código” como sintoma de isolamento ou escapismo. Outros apontam o risco de substituição de laços humanos por interações programadas.

Mas também há um debate importante: essas IAs devem ter limites claros? O que acontece quando o usuário se torna dependente emocionalmente? E até onde vai a responsabilidade dos desenvolvedores?

Enquanto isso, as plataformas continuam crescendo — e cada vez mais realistas.

E o futuro?

Com o avanço da tecnologia, tudo indica que os relacionamentos virtuais ficarão mais sofisticados. Já existem IAs que simulam voz, vídeo e até expressões faciais com ajuda de realidade aumentada. A tendência é que as linhas entre “real” e “digital” fiquem ainda mais borradas.

Não estamos mais falando só de robôs que respondem mensagens. Estamos entrando em uma era em que o afeto, mesmo que simulado, se mistura com a rotina de quem passa horas por dia no celular. E para muitos, essa companhia digital é mais do que suficiente.