O Império Britânico dominou o mundo por mais de um século, tornando-se o maior império em território. Sua supremacia não se deveu apenas à poderosa marinha, mas também a inovações industriais, como a máquina a vapor. Essa invenção foi crucial para a Revolução Industrial. No entanto, a industrialização da Grã-Bretanha começou cerca de 100 anos antes do que geralmente se ensina nas escolas.
As análises que levaram a essas novas conclusões foram publicadas no site Economies Past, da Universidade de Cambridge. O site contém dados de estrutura ocupacional sobre homens entre 1600 e 2011, e trabalho feminino e infantil entre 1851 e 1911.
O pensamento de que a industrialização britânica se iniciou a partir do final do século 18 é baseado em cálculos demográficos feitos por Gregory King no final do século 17. King trabalhou para o governo britânico e foi uma das primeiras pessoas que estimaram a população britânica. Entretanto, alguns erros – mais especificamente não considerar alguns fatores importantes -, fez com que cálculos e análises de King não estivessem tão corretos quanto os pesquisadores acreditavam.
“Ao catalogar e mapear séculos de dados de emprego, podemos ver que a história que contamos sobre a história da Grã-Bretanha precisa ser reescrita”, disse em um comunicado o professor de Cambridge Leigh Shaw-Taylor, que é líder do projeto.
As novas revisões analisam mais de 160 milhões de registros distribuídos por um período de mais de três séculos.
“Nosso banco de dados mostra que uma onda de empreendedorismo e produtividade transformou a economia no século 17, lançando as bases para a primeira economia industrial do mundo. A Grã-Bretanha já era uma nação de fabricantes no ano de 1700”, explica Shaw-Taylor.
Ou seja, a revolução industrial se iniciou antes mesmo das poderosas máquinas. A Grã-Bretanha se industrializou 100 anos antes do que aprendemos na escola.
“Cem anos foram gastos estudando a Revolução Industrial com base em uma concepção equivocada do que ela implicava”, diz o pesquisador.
Entre 1600 e 1740, o número de trabalhadores agrícolas masculinos na Grã-Bretanha caiu de 64% para 42% da população. Ou seja, antes mesmo da atualmente chamada ‘primeira Revolução Industrial’, menos da metade dos homens trabalhavam no campo. Nesse mesmo período o número de trabalhadores homens na produção de bens passou de 28% da população para 42% da população.
Em 1700, a Grã-Bretanha possui o triplo da força de trabalho, em termos percentuais da população geral, na manufatura do que a França, por exemplo. Vale lembrar que essa manufatura britânica era predominantemente caseira, ou seja, em pequena escala.
Os pesquisadores ainda não sabem apontar a razão exata para isso ter ocorrido especificamente na Grã-Bretanha. Entretanto, uma das variáveis pode ser o fato de que lá havia menos tarifas, e a economia era mais liberal. Devemos nos lembrar que o Império Britânico é o berço do Liberalismo Econômico.
Para contextualizar sobre outros locais da Europa, em torno da cidade de Leiden, nos atuais Países Baixos, a produção têxtil foi proibida nos campos. Na Suécia, não eram permitidas lojas em áreas rurais dentro de um raio de dez minhas de uma cidade – regra que valeu até o século 19. Assim, em muitos locais da Europa, a economia era dificultada, e boa parte da população permanecia na agricultura de subsistência.
Entretanto, um pouco antes da Revolução Industrial tomar o seu auge, muitas indústrias inglesas de mudaram para o norte, pois a região possuía grande abundância de carvão mineral – o combustível utilizado na indústria nesse período.
Assim, entre o final do século 17 e início do século 18, a força de trabalho agrícola no condado de Norfolk aumentou de 28% dos trabalhadores para 51%. Ou seja, com esse período pré-revolução industrial, a industrialização manufatureira caiu consideravelmente, e algumas pessoas voltaram para o campo.
“No século 18, por outro lado, mais partes do país viram uma diminuição na participação da força de trabalho no setor secundário (manufatura) e um aumento na agricultura. Além disso, não houve aumento da participação da força de trabalho no setor secundário por causa da disseminação de máquinas”, disse Shaw-Taylor ao ZME Science.
Embora essa primeira fase de industrialização tenha tido características muito diferentes da industrialização posterior, ela precisa se apresentada nas escolas, já que A Grã-Bretanha se industrializou 100 anos antes do que aprendemos na escola. As pesquisas estão em fases iniciais e logos haverá mais resultados, inclusive considerando o papel das mulheres e crianças, dos quais ainda não há tantos detalhes, mas os pesquisadores também possuem interesse.