No universo da divulgação e da ficção científica, Isaac Asimov é uma figura conhecida e destacada. O escritor, bioquímico russo e professor, naturalizado norte-americano, é autor de “Fundação” e “Robôs”. Nesse contexto, em “Razão”, uma história escrita em 1941, Asimov popularizou a ideia de uma estação espacial que circula em torno da Terra, captando a energia do Sol por meio de grandes painéis solares.
Essa energia é então transformada e enviada de volta ao nosso planeta em forma de eletricidade. A estação não só fornece energia para suas próprias operações, mas também contribui para o abastecimento energético terrestre, oferecendo uma fonte limpa e renovável de eletricidade.
A visão futurista proposta por Asimov tem ganhado notoriedade entre agências espaciais em todo o mundo e pode – muito em breve – estar ao alcance das tecnologias que já existem. Além do mais, recolher energia do espaço pode significar a solução para a crise energética enfrentada globalmente.
A ideia de Asimov não é nada fantasiosa
A energia solar possui uma série de vantagens em comparação com os combustíveis fósseis e outras fontes de energia. Ela é facilmente acessível, renovável e tem impacto ambiental mínimo.
No entanto, há desafios a serem enfrentados. Um dos maiores é o armazenamento, já que a energia solar só pode ser coletada durante o dia e precisa ser armazenada para ser utilizada à noite.
Assim, uma estação energética espacial seria capaz de coletar energia solar continuamente, sem depender do ciclo dia-noite da Terra. Além disso, estando no espaço, a estação não seria afetada por condições climáticas adversas, como nuvens ou chuva.
Embora Asimov tenha dado à luz uma ideia, a priori, fantasiosa, ela tem feito cada vez mais sentido. Leopold Summerer, chefe do Gabinete de Conceitos e Estudos Avançados da Agência Espacial Europeia assinala que “É um desses conceitos que olha à primeira vista: ‘Uau, é mesmo? Por que alguém colocaria estruturas tão grandes no espaço se você tem espaço livre suficiente na Terra?’ Mas o conceito tem muito mérito. Aborda tantos dos nossos desafios atuais – desde as alterações climáticas à segurança energética – que seria irresponsável não considerá-lo seriamente.”
Estações de energia solar espaciais já existem
As tecnologias espaciais que são utilizadas em aeronaves – muitas operam com painéis solares – já carregam consigo um tanto da ideia do Asimov. Summerer explicou que “temos estações de energia solar no espaço, apenas usamos a energia localmente”.
Desse modo, para construir uma estação de energia, seriam necessários painéis solares maiores do que os utilizados em naves espaciais e hardware projetado para lidar com altas tensões, o que seria viável com o melhoramento de tecnologias já desenvolvidas.
A Lua como caminho
É evidente, até para os leigos no assunto, que construir usinas solares para recolher energia do espaço não é tão simples: há problemas de infraestrutura – devido às proporções gigantescas, a questão da eficiência, o alto custo de construção e manutenção e uma série de outros desafios.
Contudo, a Lua é um caminho possível e promissor no que diz respeito a ser um local de testes. Na Lua, não há atmosfera ou nuvens que atrapalhem a transmissão de energia, e os requisitos energéticos para uma base lunar seriam muito inferiores aos da Terra.
Segundo Summerer, “A Lua pode ser um trampolim para o desenvolvimento de tecnologias-chave para demonstrar como a energia solar baseada no espaço funciona em uma escala muito menor”.
Um conceito de ficção científica que pode se tornar concreto mais rápido do que imaginamos
Especialistas como Summerer expressam a crença de que poderemos testemunhar a funcionalidade da energia solar espacial muito antes do esperado. Seu uso prático pode se tornar real em meados da década de 2030.
A “data” coincide com o centenário da publicação da história de Asimov. Se assim for, teremos um século para transformar um conceito da ficção científica em uma realidade concreta na ciência.