A questão “Tem a Ciência Lugar?” tem intrigado filósofos, historiadores e cientistas ao longo dos anos. A ideia de que a ciência transcende fronteiras geográficas e é inerentemente desvinculada de qualquer localização específica é profundamente enraizada em nossa compreensão da pesquisa científica. No entanto, esta crença não é tão inquestionável quanto parece à primeira vista. Este artigo explora a importância da localização na ciência moderna e a influência da contextualização na produção científica.
A Falácia da “Falta de Localização”
“Parecia que qualquer esforço mais abrangente para situar a ciência nos locais de sua produção seria tomado como um ataque à integridade e à autenticidade do conhecimento científico”, afirma Livingstone (2003). A noção de que a ciência deve ocorrer em um local universal, o laboratório, onde a influência da localidade é eliminada, é uma falácia que merece escrutínio. A criação do laboratório moderno foi, de fato, um esforço consciente para criar um espaço “sem lugar”, onde a ciência pudesse ocorrer sem as amarras da localização.
No entanto, esta ideia de “falta de localização” tem implicações significativas. Para garantir a credibilidade e alcançar a objetividade, a ciência exigiu, de acordo com essa visão, a eliminação de qualquer influência externa. O triunfo do laboratório como o local por excelência da plausibilidade científica desde o século XIX atesta essa convicção predominante.
A Importância da Contextualização
Entretanto, ao nos depararmos com a produção científica global altamente concentrada, surge a pergunta: “O lugar importa para a ciência?” A resposta a essa questão é mais complexa do que a visão tradicional sugere. A localização desempenha um papel fundamental na pesquisa científica, desde a disponibilidade de recursos até a língua em que o conhecimento é compartilhado e o objeto de estudo em si.
As questões sobre a localização na ciência se desdobram em outras, como: “quais recursos?“, “qual língua?“, “qual objeto?“. Essas questões formam uma rede complexa que contextualiza o cientista e sua prática não apenas em um laboratório específico, mas em uma região definida no mapa político do conhecimento.
O processo de localizar-se no “centro” ou na “periferia” tem implicações significativas na hierarquia do sistema de reconhecimento da ciência. Este processo é denominado “contextualização” (Neves, 2014) e desafia a visão tradicional de um espaço científico deslocalizado.
Conclusão
Em resumo, a questão “Tem a Ciência Lugar?” é mais relevante do que nunca em nosso mundo globalizado. A localização desempenha um papel fundamental na produção científica e na contextualização da pesquisa. Reconhecer a importância da localização na ciência é crucial para uma compreensão mais completa e precisa do processo científico.
Portanto, é hora de repensar a noção de um espaço científico “sem lugar” e abraçar a ideia de que a localização desempenha um papel fundamental na formação da ciência moderna. A resposta para “Tem a Ciência Lugar?” é sim, e essa localização é fundamental para entender a produção científica global.