O Japão é um país de grandes aplicações de engenharia. Dos seus prédios com tecnologias anti-sísmicas até seu intrincado sistema ferroviário, são diversas as maravilhas que poderiam ser destacadas sobre a “a terra do sol nascente”. Por coincidência, o exemplo de hoje está associado às ferrovias japonesas: o túnel Seikan!
Atualmente este é o segundo maior túnel já projetado pela humanidade, se estendendo por um pouco menos de 54 quilômetros, estando em uso desde 1988. Em tamanho, ele perde apenas para o de São Gotardo, na Suíça, que tem 57 quilômetros de extensão e foi inaugurado em 2016, quase três décadas após a inauguração do túnel Seikan. Mas enquanto o túnel suíço atravessa montanhas, o túnel japonês cruza o mar pois 23.3 quilômetros dele estão submersos.
Entre a França e o Reino Unido existe o famoso Eurotúnel, o atual recordista de túnel com a maior seção submersa da história que se estende por 38 quilômetros. Entretanto, o túnel Seikan alcança regiões um pouco mais profundas estando a 100 metros abaixo do leito marinho do Estreito de Tsugaru, o que configura 240 metros abaixo do nível do mar.
Sendo assim o túnel Seikan segue como uma fascinante obra de engenharia moderna que já foi objeto de estudo para muitos artigos. Mas não é apenas por toda a ciência ao redor da sua construção que o faz de um importante marco para o país, a história da sua construção também chama atenção.
Infelizmente o início dessa cronologia é marcado por uma tragédia. Estudos no na região do Estreito de Tsugaru, onde o túnel se encontra hoje, começaram a partir da segunda metade da década de 40. Mas em 1954 o Japão foi atingido pelo Tufão Maria que afundou cinco balsas que cruzavam o estreito. Ao todo, 1.430 pessoas perderam suas vidas no incidente, motivando o desenvolvimento de formas de transporte mais seguras no mar daquela área.
Foi então que, em 1955, o grupo das Ferrovias Nacionais Japonesas, ou JNR (Japanese National Railways), lançou um estudo para determinar se a construção de um túnel submerso seria viável. As primeiras escavações viriam a começar nove anos depois e sendo que a construção de fato do túnel se deu em 1971. O desenvolvimento do projeto ainda seria marcado por tragédias e 34 trabalhadores morreram dada as condições adversas do ambiente. Foi depois de muito suor e sangue que o túnel principal ficou pronto em 1985 e a construção se estendeu por mais três anos. Além do trecho submerso, duas estações foram construídas, cada uma numa das costas interligadas pelo túnel Seikan.
Calcula-se que toda a construção, das escavações até a inauguração em 1988, custou cerca de 689 bilhões de ienes, o que dá um pouco menos de 5 bilhões de dólares. Outras estimativas colocam o custo do projeto na casa dos trilhões. De qualquer forma, o investimento teve seu retorno e hoje o túnel Seikan se encontra em operação e altamente ativo. Mais de 50 trens atravessam-no diariamente, incluindo trens de cargas e de passageiros. Até mesmo os famosos Shinkansen, trens-bala que atingem velocidades de até 320 km/h, passam pelo túnel desde 2016.
Viagens por trem são muito utilizadas no Japão por conta do tempo e preço. No túnel Seikan, por exemplo, existe uma rota que liga as cidades de Tóquio e Hakodate com um percurso que dura quatro horas e custa menos de 24 mil ienes, o que daria algo em torno dos 150 dólares. Atualmente, há planos para 2030 de estender a rota do túnel Seikan para as regiões montanhosas da cidade de Saporo, totalizando um percurso de não mais que cinco horas de duração.