Cinco anos atrás, a NASA enviou para a Lua a sonda espacial Beresheet. Essa seria a primeira nave espacial privada, desenvolvida pela SpaceIL e Israel Aerospace Industries, a fazer um pouso suave no satélite. Infelizmente a missão não foi um sucesso e, depois de uma série de problemas durante a manobra de aterrissagem, a sonda colidiu com a superfície lunar em alta velocidade. Embora não houvesse tripulantes humanos na Baresheet, naquele dia perdeu-se um grupo de tardígrados que haviam sido colocados entre a carga da nave.

Tardígrados são uma das espécies mais curiosas que cientistas têm conhecimento. Estes são animais de proporções microscópicas que chegam a medir menos de um mísero milímetro de comprimento. São seres dotados de neurônios, possuem um par de olhos, uma abertura bucal que fica no fim de uma probóscide – apêndice alongado que se localiza na cabeça de algumas espécies de animais – retrátil e quatro pares de pernas não-articuladas que possuem garras. Acredita-se que sejam descendentes de um ancestral em comum com os insetos e aracnídeos pertencentes ao filo dos artrópodes.

Mas então qual foi o destino dos tardígrados que foram perdidos na lua? Essa é uma pergunta que cientistas fazem há alguns anos. A primeira resposta que vem à cabeça é que eles devem ter morrido ou no instante da colisão da sonda, cujo impacto lançou partes dela por distâncias de até cem metros, ou segundos depois no ambiente hostil lunar. Contudo, a verdade não é tão simples assim de se determinar e a questão segue em aberto.

Tardígrados são uma das espécies mais resistentes do mundo

Foto de um tartígrado. Imagem: Wikimedia Commons – CC BY 2.5

O principal motivo de ainda existir dúvidas é porque os tardígrados são criaturas bem especiais no que tange suas habilidades de sobrevivência. Eles são capazes de aguentar temperaturas próximas do zero absoluto e de até 150 °C, pressões equivalentes a 6 mil atmosferas e até mesmo níveis de radiação que superam em mil vezes o quanto um ser humano aguenta. Além disso, esses animais podem desligar seu metabolismo e perder até 95% da água do seu corpo. Alguns conseguem sintetizar açúcar, trealose, que atua como um anticoagulante, enquanto outros sintetizam proteínas que oferecem proteção às suas células. 

Basicamente o tardígrado consegue resistir a condições adversas tanto dentro quanto fora da Terra. Assim os cientistas se questionam se não existe uma possibilidade dos tardígrados terem sobrevivido e contaminado a Lua nesses últimos cinco anos.

Contudo, para chegar a essa conclusão é necessário considerar que os tardígrados que estavam a bordo da Barasheet precisam sobreviver há vários obstáculos, sendo o primeiro o já mencionado impacto da sonda com o solo lunar. Testes feitos em laboratório com o Hypsibius dujardini, uma das espécies de tardígrados, em que espécimes congelados lançados contra a areia conseguem aguentar velocidades de até 2.600 km/h. Isso seria um ponto a favor, uma vez que a colisão da Barasheet ocorreu numa velocidade menor.

A superfície da Lua não tem proteção contra partículas solares e raios cósmicos como os raios gamas, felizmente os tardígrados também conseguem resistir a essa radiação. Na Alemanha, um estudo observou que os raios gamas que atingem a superfície da Lua acumulam em dez anos uma dose de cerca de 1 Gy de radiação. Os tardígrados conseguem resistir até cinco mil vezes esse valor.

Os dois fatores mais complicados para a sobrevivência dos tardígrados são as constantes variações de temperaturas de -190 °C nas noites lunares em contraste com os 120 °C do dia lunar. Nem mesmo a sonda havia sido projetada para aguentar essa variação e iria cessar suas atividades após alguns dias na Lua. Além disso, também há a falta de água, de forma que os tardígrados não conseguiriam se reproduzir. Logo chances são que os espécimes já morreram ou seguem inativas.