“La Mancha Negra” é um mistério que assola a Venezuela há décadas. Hoje, já não causa mais os problemas que causou, mas o mistério continua.

Em 1986, uma equipe de trabalhadores rodoviários percebeu que havia uma mancha, uma espécie de gosma, surgindo em uma dar mais importantes rodovias da Venezuela, na área de Caracas, a capital do país. A mancha se estendia entre coração da cidade e o aeroporto das proximidades, Simón Bolívar International, incialmente, com 50 metros de comprimento, mas ela foi aumentando de tamanho. Logo, ela tomou um trecho de 13 km.

A substância lisa causou diversos acidentes de trânsitos no trecho.

Assim, o governo da Venezuela passou a buscar maneiras de investigar a sua origem e limpar a gosma. Entre as tentativas, estavam lavadoras elétricas de alta pressão, raspadores, poderosos, detergentes, recapeamento, e até mesmo calcário pulverizado para tentar secar a gosma. Este último, inclusive, causou grande polêmica entre os locais, que reclamaram da qualidade do ar com a presença do calcário.

Por algum tempo, algumas das tentativas funcionavam. Entretanto, em poucos anos, a “La Mancha Negra”, que aparentemente sumiu no final dos anos 1990, reapareceu em 2001.

Em 2003, o El Nacional, via Courrier International, publicou uma matéria em que dizia que em alguns locais, a gosma possuía até 2,5 cm de espessura.

Ao portal, a prefeitura argumentou, naquele ano, que a mancha tinha origem em um grupo que gostaria de sabotar a cidade.

“Coletamos amostras de diferentes locais e essas amostras foram enviadas para a Escola de Química da Universidade Central da Venezuela para análise. As manchas consistem em 60% de fluido de freio e 40% de óleo de drenagem. Vamos agora analisar os recursos legais”, disse na época ao portal o porta-voz da prefeitura.

Vista de Caracas, capital da Venezuela. Imagem: Guillermo Ramos Flamerich

O químico Giuseppe Giannetto, da Universidade Central da Venezuela, que fez parte de uma comissão que estudava a mancha, observou que em trechos de pista simples, a mancha ficava no meio da faixa, e em trechos de pistas duplas, andava entre as faixas. Ele acreditava que as manchas eram óleo dos motores dos carros.

“Não existe em nenhuma outra cidade do mundo. A razão para isso é muito simples: este estudo confirma a obsolescência da nossa frota de veículos. Os proprietários fazem com que os veículos durem até treze ou quinze anos. No entanto, sabemos que depois de cinco anos é normal que um carro perca óleo. Some-se a isso o fato de que 60% dos automóveis apresentam pequenos vazamentos de óleo em condições normais. Então você pode imaginar as quantidades que podem ser depositadas durante os engarrafamentos”, disse o químico ao El Nacional, ainda em 2003.

Essas linhas de pensamento, pelo que se pensa hoje, estavam todas erradas.

O que os cientistas pensam hoje sobre “La Mancha Negra”?

A mancha ainda é um mistério, embora existam tentativas de explicá-la. Hoje, há duas teorias principais.

A Venezuela possui enormes depósitos de petróleo. Uma das hipóteses é a de que houve algum vazamento em um dos depósitos subterrâneos de petróleo. Entretanto, essa hipótese é descartada pela maioria por algumas razões técnicas.

A outra hipótese defendida é um asfalto de baixa qualidade.

“La Mancha Negra surgiu em asfalto que foi tratado com emulsificantes para obter um produto com as mesmas características do asfalto comum usado em estradas, mas [especulo] com provavelmente reduzindo custos e permitindo outras vantagens químicas”, disse o Dr. Reinaldo Gonzalez, professor adjunto na Universidade de Houston à Popular Mechanics recentemente.

“A explicação mais simples possível que me lembro é que as fases do asfalto tratado se separaram, e uma delas ‘emergiu’ para a superfície, causando uma espécie de mancha preta e levemente gordurosa nas estradas”.

O asfalto se degradar e “derreter” não é algo impossível. Em 2015, na Índia, uma onda de calor que matou milhares de pessoas causou até mesmo derretimento de asfalto. A Venezuela não é um lugar tão quente assim, mas os cientistas defendem que um asfalto de baixa qualidade poderia se degradar e ter suas fases separadas por outras razões ou reações químicas.

La Mancha Negra já não é mais um problema, mas continua um grande mistério.