25 anos atrás, ou para ser mais preciso, no dia 3 de junho de 1997, o jogador Roberto Carlos realizava um gol histórico. É esse dia que ocorre o gol de Roberto Carlos que desafia a física, empatando, 1 a 1, o jogo entre a seleção brasileira e a França.
O gol de falta tornou-se o mais famoso do ex-lateral-esquerdo da seleção. Relembre:
Com um efeito absurdo, a trajetória da bola deixa o goleiro sem reação, pois a bola parece ter se guiado para o gol no último instante, já que parecia seguir um trajetória para fora dele.
“Para falar a verdade, nem sei como fiz aquele gol”, disse Roberto Carlos em uma entrevista à ESPN há alguns anos. “Foi um gol lindo, fruto de muitos anos de treinamento e trabalho duro, que me permitiram acertar aquele chute e fazer esse gol tão marcante na minha carreira”.
O gol foi muito impressionante do ponto de vista futebolístico. Entretanto, ele também foi muito impressionante do ponto de vista da física. Não é a toa que ele inspirou diversos estudos pelo mundo, entre eles, Dupeux G. et al (2010), que no periódico New Journal of Physics, analisam a trajetória de uma bola sólida movendo-se e girando rapidamente – algo parecido com o que ocorreu no histórico golasso. Eles não estudam exatamente o chute de Roberto Carlos, mas o mencionam ao final do artigo. O objeto analisado segue as mesmas forças do chute do craque.
“É assim que interpretamos o famoso gol do brasileiro Roberto Carlos contra a França, em 1997. A falta foi cobrada de uma distância aproximada de 35 metros, ou seja, uma distância na qual é possível esperar essa trajetória inesperada”, diz o artigo, no trecho da menção.
Quando ele chuta a bola, ela inicia uma trajetória, inicialmente, aparentemente reta. Entretanto, por chutar a bola em seu canto inferior direito, ela se moveu girando. Com a movimentação do ar em torno da bola, em cada lado do objeto, houve uma diferença de pressão do ar – de um lado, uma área de maior pressão, e do outro, uma área de menor pressão.
Dessa forma, a área de maior pressão “empurra” a bola. Por isso ela parece desafiar a física. A Lei da Inércia, de Isaac Newton, diz que um objeto tende a continuar seu movimento, a menos que uma força intervenha. Ou seja, a tendência da bola era continuar em linha reta. Entretanto, essa diferença de pressão decorrente do movimento da bola sobre seu próprio eixo, gerou essa força para retirar a bola da inércia.
“Embora a física explique perfeitamente a trajetória da bola, as condições, como potência do chute, ponto do impacto do pé do Roberto Carlos na bola e distância às traves, que fizeram com que ela ocorresse são tão raras que podemos chamá-la de milagrosa”, disse à ESPN o Prof. Dr. José Fernando Fontanari, professor titular Instituto de Física de São Carlos da USP (IFSC/USP).
Se não houvesse a rede do gol, e houvesse espaço suficiente, a tendência da bola era continuar em uma espiral.
“Não acredito que veremos algo assim novamente”, diz Fontanari.
Fazer a bola ter esse efeito não é algo tão difícil assim. É esse fenômeno que descreve o efeito do chute do famoso “gol olímpico”. Entretanto, se a dificuldade não está em gerar o efeito, está em balancear a força de forma correta para que a trajetória da bola seja perfeita.
Roberto Carlos calibrou seu chute para que a bola nem fosse tão aberta, para tão longe do gol, nem para que fosse mais fechado, batendo na barreira. Além disso, houve uma calibração precisa na altura da bola, para que ela nem batesse no chão, e nem voasse por cima do gol. São essas circunstâncias que tornam tão impressionante o gol de Roberto Carlos que desafia a física.