Na escola, matemática é dificilmente a matéria favorita dos alunos. Estudar tabuadas ou como calcular porcentagem não é tão empolgante quanto aprender sobre civilizações antigas que desapareceram misteriosamente. Contudo, no meio acadêmico a matemática é uma ciência altamente respeitada pela sua aplicação em outros campos como a física, química e computação. Essa última recentemente veio contribuir para a própria matemática estabelecendo o novo recorde do Pi: 105 trilhões de dígitos.

Na matemática, o Pi é número irracional – números decimais, infinitos e não-periódicos e que não podem ser representados por meio de frações irredutíveis – obtido pela é razão entre o comprimento de uma circunferência e seu diâmetro. Geralmente abrevia-se a constante em apenas duas casas decimais, 3,14, e ela aparece em diversas fórmulas matemáticas e físicas representada pelo símbolo π. Agora sabe-se que seu 105 trilionésimo dígito é 6.

Semana passada, a Solidgm, empresa americana da Califórnia que atua no ramo de armazenamento de dados, revelou que teria quebrado o atual recorde de dígitos decimais, chegando na casa dos 105 trilhões. O anúncio foi feito em 14 de março (3/14), quando é comemorado o Dia do Pi, data que celebra a descoberta da constante. Para conseguir calcular essa quantidade de casas decimais, a Solidgm usou o poder computacional equivalente a centenas de milhares de smartphones.

Prédio principal da Solidgm, empresa americana no ramo do armazenamento de dados. Imagem: Solidgm/Divulgação

Quebrar o recorde do Pi não chega a ter um real valor na matemática ou na física, uma vez que cálculos que utilizam essa constante não precisam de muito mais que umas duas dezenas de casas decimais. Contudo, calcular esse número vem sendo muito utilizado para se testar novos programas de computador e sistemas de armazenamento de dados e se tornou uma ótima campanha publicitária para empresas desse ramo. E é nisso que a conquista da Solidgm impressiona.

Segundo a LiveScience, se uma pessoa digita-se o novo recorde do Pi no papel, usando uma fonte de 10 de tamanho numa linha contínua, o número teria o equivalente de 3,7 bilhões de quilômetros de comprimento. Para pôr isso em perspectiva, isso significa que ele poderia ir da Terra até algum lugar entre Urano e Netuno, os dois últimos planetas do nosso sistema solar.

Ainda mais impressionante que isso é todo o tempo e poder computacional que foi necessário para a empresa americana conseguir determinar os 105 trilhões de dígitos. O cálculo precisou de 75 dias de processamento ininterrupto para se concluir, utilizando 36 SSDs, um meio de armazenamento que tem se tornado muito comum em laptops recentemente, que juntos acumulam por volta de um 1 petabyte. Isso equivale a um milhão de gigabytes ou mil terabytes.

Também é necessário um grande poder de processamento para conseguir realizar cálculos que cheguem até 105 trilhões de casas decimais. Porém, o armazenamento nesse caso foi de extrema importância pois era necessário guardar uma enorme quantidade de dados para que os computadores conseguissem executar esse processo. Brian Beeler, atual proprietário da Solidigm, disse na declaração da empresa que essa conquista não foi pouca coisa pois “envolveu planejamento meticuloso, otimização e execução”.

Não é de hoje que a Solidgm vinha fazendo cálculas com o Pi para poder demonstrar seu poder de processamento. Ano passado eles haviam conseguido alcançar o até então recorde do Pi que era de 100 trilhões de dígitos e foi calculado pela Google Cloud. E antes disso o recorde era da Universidade de Ciências Aplicadas dos Grisões, 62,8 trilhões de dígitos, na Suíça, por meio de um supercomputador que ficou em operação por 108 dias em 2021. Antes deles, o recorde pertencia a uma pessoa, Timothy Mullican de Huntsville, Alabama, que conseguiu calcular 50 trilhões de dígitos no seu computador pessoal.