Cientistas chineses identificaram um possível avanço na busca de tornar Marte habitável: um musgo resiliente do deserto. De acordo com um estudo recente, publicado no periódico The Innovation, a Syntrichia caninervis, encontrada em ambientes extremos do Tibete à Antártica, pode ser fundamental para estabelecer um ambiente habitável no Planeta Vermelho.

“Planta pioneira” para Marte

Os pesquisadores acreditam que esse musgo poderia enriquecer a superfície rochosa de Marte, abrindo caminho para o crescimento de outras plantas. Embora estudos anteriores tenham explorado alternativas como algas e líquens, a equipe argumenta que os musgos oferecem vantagens exclusivas:

“Plantas como os musgos oferecem benefícios importantes para a terraformação, incluindo tolerância ao estresse, alta capacidade de crescimento fotoautotrófico e o potencial de produzir quantidades substanciais de biomassa em condições desafiadoras”, escreveram os autores do estudo.

Acredita-se que os musgos, que foram as primeiras plantas terrestres verdadeiras da Terra, desenvolveram uma resistência notável a condições extremas, o que os torna adequados para o ambiente hostil de Marte.

Sobrevivendo às condições marcianas

Os cientistas submeteram o S. caninervis a várias condições semelhantes às de Marte, incluindo:

  • Altas doses de radiação gama
  • Baixos níveis de oxigênio
  • Frio extremo
  • Seca

Surpreendentemente, o musgo demonstrou capacidade de resistir a essas condições, recuperando-se mesmo após perder mais de 98% de seu conteúdo de água – um processo descrito como “secar sem morrer”.

Ainda mais impressionante, a planta conseguiu se recuperar e criar novos ramos depois de ser armazenada a -80 graus Celsius (-112 graus Fahrenheit) por cinco anos ou em nitrogênio líquido (-195,8 graus C; -320,44 graus F) por um mês.

Visão hipotética de Marte terraformado. Imagem: Stefan Morrell/National Geographic

Adaptação ao estresse

As características exclusivas do musgo contribuem para sua resiliência:

“As características morfológicas exclusivas do S. caninervis, como as folhas retorcidas, conservam a água minimizando a área de superfície e reduzindo a transpiração, e os toldos proporcionam fotoproteção eficiente contra radiação UV intensa, temperaturas extremas e perda de água”, explicou a equipe.

Sob estresse, a S. caninervis entra em um estado de “dormência metabólica seletiva”, preservando os principais metabólitos para uma rápida recuperação. A planta também mantém altos níveis de sacarose e maltose, que protegem as estruturas celulares e fornecem energia para a recuperação.

Considerações éticas

Embora essas descobertas sejam promissoras para a possível colonização de Marte, as implicações éticas da terraformação não podem ser ignoradas. Como aponta a astrofísica Erika Nesvold em seu ensaio “The Thorny Ethics of Planetary Engineering” (A ética espinhosa da engenharia planetária):

“O objetivo da terraformação é criar intencionalmente um ecossistema inteiro em escala global, o que muito provavelmente destruiria qualquer ecossistema existente. A tecnologia de terraformação pode até se tornar viável antes mesmo de determinarmos definitivamente se existe vida extraterrestre no planeta ou na lua que esperamos transformar.”

Nesvold levanta questões importantes sobre a possível descoberta de vida microbiana em Marte e se isso deve afetar os planos de terraformação.

“Mas suponhamos que descobrimos evidências da existência de vida microbiana num planeta como Marte”, continuou ela. “Isso deveria desqualificar Marte como alvo de terraformação? Deveríamos evitar nos estabelecer em Marte?”

À medida que a pesquisa continua, cientistas e especialistas em ética precisarão lidar com essas questões complexas que envolvem o futuro da exploração e da possível colonização de Marte.