A paleontologia não seria nada sem os fósseis. Isso porque eles fornecem dados essenciais acerca da evolução das espécies no sentido biológico, além de permitir a remontagem da história geológica da Terra com questões que envolvem datação. Nesse contexto, um fóssil histórico teve cópias reproduzidas secretamente – embora tal afirmação pareça um tanto quanto sensacionalista, essa “reprodução secreta” foi imprescindível.
Partindo para a França, o filósofo Gilles Deleuze (1925-1995), em suas obras, tratou sobre o conceito de simulacro: a grosso modo, o pensador criticava a repetição das cópias, uma vez que a imitação (de algo ou alguém) traz consigo enganações, pois determina a realidade do “objeto”, quando, na verdade, este não passa de uma falsidade ou erro. Mesmo que legítimo em inúmeras situações, o pensamento deleuziano é contraposto pela repetição do fóssil histórico por sua importância intrínseca, visto que ele – o fóssil – foi destruído durante a Segunda Guerra Mundial, quando bombas nazistas caíram em Londres, capital da Inglaterra.
Cópias de fóssil histórico são encontradas
O primeiro esqueleto completo de ictiossauro (répteis marinhos que tiveram origem no início do Triássico Inferior, há cerca de 250 milhões de anos) foi encontrado pela caçadora de fósseis, a paleontóloga Mary Anning e perdido quando Londres foi bombardeada pelos nazistas. Londres sofreu quase 28 mil ataques à bomba entre 7 de outubro de 1940 e 6 de junho de 1941.
Entre os danos imensuráveis, o precioso fóssil histórico foi destruído. Entretanto, recentemente, dois moldes do fóssil réptil foram achados enterrados, embora não exista nenhum registro de quando eles tenham sido feitos.
Dean Lomax, da Universidade de Manchester, no noroeste da Inglaterra, e Judy Massare, da Universidade Estadual de Nova York, ambos pesquisadores, disseram que as descobertas são “historicamente importantes”. E que “O espécime foi o primeiro esqueleto de um réptil marinho extinto na literatura científica e o esqueleto de ictiossauro mais completo conhecido na época”, como afirmam no estudo publicado na revista Royal Society Open Science.
“Cópia da cópia”
Uma das cópias foi achada no Museu Peabody de História Natural da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, provavelmente é um “molde de um molde” e foi doado à instituição ainda em 1930.
Os pesquisadores dizem se tratar de uma espécime de ictiossauro de Lyme Regis, na costa jurássica de Dorset, sul da Inglaterra, onde Anning e sua família foram caçar fósseis no início do século XIX (19).
A outra cópia, por sua vez, que está no Museu de História Natural de Berlim, na Alemanha, é um “molde de gesso de um esqueleto de ictiossauro de um local desconhecido” e foi achado em melhores condições, como disseram os cientistas. As comparações de ambas as cópias permitiram que os pesquisadores chegassem à conclusão de que eram do esqueleto perdido de ictiossauro.
Além disso, por ser mais rico em detalhes e apresentar melhor conservação, acredita-se que esse molde seja mais recente, tendo sido feito posterior ao primeiro e utilizadas técnicas mais desenvolvidas. “Considerando que o original foi destruído durante a Segunda Guerra Mundial, é um tanto irônico que o elenco [molde] em melhores condições esteja no museu de Berlim”, refletiram os pesquisadores.
Ictiossauro ou “lagarto-peixe”
Os ictiossauros eram parentes distantes de lagartos e cobras. Eles viveram entre 251 milhões e 65,5 milhões de anos atrás e eram comuns no período Jurássico, cujo início se deu há cerca de 200 milhões de anos.
Segundo pesquisas e fósseis encontrados, esses animais tinham cerca de três metros de comprimento, possuíam quatro nadadeiras, tinham grandes olhos, um focinho pontudo (que lembrava os golfinhos e enormes fileiras de dentes super afiados.
Sem capacidade de sobreviver na terra, os ictiossauros viviam na água, mas precisavam emergir para que fosse possível respirar.