A Zona de Exclusão de Chernobyl (CEZ) é uma área de aproximadamente 2.600 km² que foi estabelecida ao redor do local do desastre nuclear de Chernobyl, ocorrido em 26 de abril de 1986. A principal função da zona é restringir o acesso ao público e realizar esforços de contenção e limpeza da radiação. A área é constantemente monitorada para medir os níveis de radiação e garantir que eles não atinjam níveis perigosos para a população fora da zona.

Se por um lado não existe habitação humana; por outro lado, a natureza tem desabrochado e se mantido resiliente desde então. Além de vegetação, os animais estão mais do que presentes na CEZ, apesar das dificuldades.

Nesse sentido, algumas novas pesquisas sugerem que filhotes de pássaros nascidos em partes altamente radioativas de Chernobyl apresentam diferenças biológicas sutis em comparação com aqueles criados em áreas não contaminadas. No entanto, essas variações parecem não impactar significativamente a saúde geral e a sobrevivência dos filhotes.

Saúde de pássaros nascidos em partes diferentes da CEZ

Na Conferência Anual da Society for Experimental Biology, realizada em 3 de julho, Sameli Piirto, pesquisadora de doutorado na Universidade de Jyväskylä, na Finlândia, apresentou as primeiras descobertas sobre a saúde e os microbiomas dos filhotes de pássaros em diversas áreas da famigerada CEZ.

Piirto explicou que, apesar de muitos estudos sobre a vida selvagem de Chernobyl nas últimas duas décadas, faltava uma análise focada nos animais jovens em ambientes contaminados. Ela destacou que, ao contrário dos animais adultos e de muitos mamíferos que têm a capacidade de se mover, os filhotes de pássaros são imobilizados e totalmente dependentes de suas condições ambientais imediatas.

“Esta é uma das grandes vantagens de estudar pássaros,” afirmou Piirto. “Temos um animal que permanece no mesmo local por semanas, permitindo comparações diretas entre filhotes e adultos de diferentes regiões.”

Desse modo, a pesquisa de Piirto pode revelar diferenças significativas nos microbiomas dos filhotes criados em áreas altamente radioativas em comparação com aqueles em regiões menos contaminadas.

Metodologia

Utilizando dados coletados de 300 caixas-ninho espalhadas pela CEZ, Piirto avaliou filhotes de duas espécies de pássaros: chapins-reais (Parus major), que são residentes, e papa-moscas-de-bico-branco (Ficedula hypoleuca), que são migratórios. Os pesquisadores dividiram as caixas-ninho igualmente entre áreas da CEZ com baixos níveis de radiação, consideradas “limpas”, e áreas altamente radioativas, conhecidas como “quentes”.

A variação nos níveis de radiação entre os locais foi significativa. Algumas áreas limpas apresentaram níveis de radiação próximos ao padrão de fundo que pode ser encontrado em qualquer lugar (aproximadamente 0,34 microsieverts por hora, em média, nos Estados Unidos).

Em contraste, as áreas mais radioativas, ou “quentes”, registraram cerca de 100 microsieverts por hora. Piirto comparou este nível de radiação a “fazer um raio-X de tórax a cada hora”. Ao longo do tempo, tal exposição acumulativa seria aproximadamente 870 vezes superior ao limite anual recomendado para o público em geral, representando riscos significativos à saúde humana.

“Paraíso da biodiversidade”

Imagem: Canva

Estudos anteriores sobre a vida selvagem de Chernobyl produziram resultados variados. Algumas pesquisas retratam a CEZ como um paraíso biodiverso, livre da interferência humana destrutiva, onde uma incrível variedade de espécies vive em relativa tranquilidade.

Em contrapartida, outros estudos indicam que certas áreas da CEZ são menos biodiversas, apresentando uma escassez relativa de organismos, desde aves até invertebrados do solo. Alguns artigos científicos também sugerem que certos animais na CEZ podem estar sofrendo os efeitos da exposição à radiação.

Piirto comenta que os impactos totais do desastre de Chernobyl na vida selvagem podem nunca ser totalmente compreendidos. A remoção dos humanos da equação parece oferecer benefícios significativos para muitos animais, mas os níveis de radiação na zona são extremamente heterogêneos, com algumas áreas apresentando contaminação mínima.

Além disso, é difícil separar os efeitos potenciais da radiação de outros fatores, como variações no habitat ou eventos climáticos que podem levantar poeira radioativa adormecida.

Embora os efeitos da radiação visto na CEZ não sejam como Piirto esperava – adicionado a isso, o conceito cultural de que Chernobyl é um ambiente mutante e super perigoso – ela não recomenda que pessoas habitem o local: “É ​​complicado, mas não vá morar em Chernobyl ainda.”