A degradação da Amazônia não é um assunto novo, embora seja atual. Esse fator, por si só, demonstra que a maior floresta tropical do mundo vem sendo explorada há um tempo considerável que remonta à época da chegada dos colonizadores europeus.

A exploração moderna, por sua vez, com objetivo econômico foi intensificada a partir do século XIX com o ciclo da borracha. Desde então, as atividades humanas diretas e indiretas de desmatamento, pecuária, incêndios florestais, queimadas, mineração ilegal e as mudanças climáticas estão destruindo gradativamente o ecossistema fértil, riquíssimo e vasto da Floresta Amazônica.

Embora a preservação da Amazônia também seja uma pauta frequentemente debatida por órgãos do governo e até instituições internacionais, as promessas devem ser cumpridas o mais rápido possível, visto que se nada for feito, o “pulmão do mundo” pode colapsar em menos de 30 anos.

Amazônia e o “ponto de inflexão”

Nos últimos vinte anos, as discussões acerca da possibilidade de um ponto de inflexão na Amazônia ganharam mais força, sugerindo que este poderia ser alcançado quando entre 20% a 25% da floresta estivesse desmatada, de acordo com modelos anteriores.

Não obstante, o estudo brasileiro publicado na revista Nature, aprofundou ainda mais essa compreensão ao analisar a complexidade do problema, considerando cinco fatores de estresse hídrico e identificando limites críticos que, se ultrapassados, poderiam desencadear o colapso de trechos locais, regionais ou até mesmo de todo o bioma florestal.

De acordo com os resultados do estudo, que representa a análise mais abrangente até o momento dos impactos cumulativos da atividade humana local e da crise climática global, até metade da Floresta Amazônica poderá atingir um ponto de inflexão até o ano de 2050. Esse cenário seria resultado do agravamento do estresse hídrico, do contínuo desmatamento e das perturbações climáticas em curso.

Além disso, o documento alertou que a floresta já ultrapassou um limite considerado seguro e enfatizou a necessidade urgente de medidas corretivas para restaurar áreas degradadas e fortalecer a resiliência do ecossistema florestal diante das crescentes pressões humanas e ambientais.

Bernardo Flores, principal autor do estudo, alerta sobre as consequências desastrosas que os danos vêm causando na Amazônia: “Em 2050, acelerará rapidamente. Precisamos responder agora. Assim que ultrapassarmos o ponto crítico, perderemos o controle de como o sistema se comportará.”

O cenário possível não existe mais

Ainda que houvesse uma interrupção local da desflorestação, o colapso da Amazônia permaneceria iminente sem uma redução global das emissões de CO2, que estão contribuindo para as perturbações climáticas.

Conforme concluído pelo estudo, seria necessário estabelecer uma fronteira segura, que incluísse uma zona tampão, a fim de limitar a desflorestação a 10% da região Amazônica e manter o aquecimento global dentro de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.

No entanto, os resultados revelam que essa ultrapassagem já ocorreu. O estudo constatou que 15% da Amazônia já foi desmatada, enquanto outros 17% foram degradados devido à atividade humana, como extração de madeira, incêndios e mineração subterrânea.

Ademais, cerca de 38% da Amazônia pode estar debilitada como resultado das secas prolongadas experimentadas na última década.

Impacto profundo

O Ararajuba (Guaruba guarouba) é uma espécie de papagaio endêmica da Amazônia e está ameaçada de extinção. Imagem: Canva

Os danos irreversíveis terão um impacto significativo nas populações locais e regionais. A Amazônia abriga mais de 10% da biodiversidade terrestre do planeta, armazena 15 a 20 anos de emissões globais de dióxido de carbono, contribui com até 50% das chuvas na região e é crucial para o fornecimento de umidade em toda a América do Sul.

Assim sendo, a alerta que o estudo evidencia traz à tona a necessidade de ações efetivas e imediatas. “Temos que esperar que as coisas aconteçam mais cedo do que pensávamos. Precisamos abordar isso com uma abordagem muito cautelosa. Devemos alcançar emissões líquidas zero e desmatamento líquido zero o mais rápido possível. Isso precisa ser feito agora. Se perdermos a Amazônia, seria problemático para a humanidade”, acrescenta Flores.