O ato de gesticular é frequentemente associado a humanos e grandes macacos, no entanto, um novo estudo publicado na revista  Current Biology, mostrou que os pássaros usam as asas para gesticular.

O estudo liderado pelo pesquisador Toshitaka Suzuki, da Universidade de Tóquio, em colaboração com Norimasa Sugita também da Universidade de Tóquio, analisou pássaros da espécie chapim japonês(Parus minor), revelando a descoberta de que esses pequenos pássaros canoros usam um curto bater de asas para indicar algo como “depois de você” aos seus companheiros, fazendo com que eles entrem primeiro na caixa do ninho.

Imagem: Alpsdake – Own work, CC BY-SA 3.0

Esse sinal de bater as asas faz parte de um sofisticado sistema de comunicação que inclui chamadas vocais que os pássaros combinam em frases usando regras sintáticas.

“Por mais de 17 anos, tenho me dedicado ao estudo dessas aves fascinantes”, disse Suzuki em um comunicado. “Eles não apenas usam chamadas específicas para transmitir significados particulares, mas também combinam diferentes chamadas em frases usando regras sintáticas.”

“Essas diversas vocalizações me levaram a iniciar esta pesquisa sobre o uso potencial de gestos físicos”, acrescentou.

“Entrar primeiro no ninho”. Os pesquisadores descobriram que as fêmeas frequentemente agitavam as asas para solicitar que os machos entrassem primeiro no ninho. As fêmeas usam esse gesto com mais frequência do que os machos, mas a razão para isso precisa ser explorada em investigações futuras. Imagem: © Suzuki e Sugita, 2024/ Current Biology

Anteriormente, a comunicação gestual era considerada uma característica exclusivamente humana até que estudos revelaram sua existência em grandes macacos. Embora a gesticulação deíctica, que usa movimentos corporais simples para apontar um objeto, seja conhecida em alguns pássaros e peixes, os gestos simbólicos exigem habilidades cognitivas mais elevadas e foram pouco documentados fora da tutela humana.

O estudo observacional examinou mais de 320 visitas ao ninho por 16 pais de chapins japoneses. A análise mostrou que as aves frequentemente se envolviam em um padrão em que um dos pais bate as asas em um poleiro enquanto o outro entra no ninho, com o pai que faz o gesto entrando em seguida. É interessante notar que as fêmeas tinham maior probabilidade de realizar esse gesto, o que geralmente resultava na entrada do macho no ninho primeiro.

Os pesquisadores elucidam que esse comportamento não é apenas um gesto deicótico. O bater de asas ocorreu apenas na presença de uma companheira, cessou quando a companheira entrou no ninho e fez com que a companheira entrasse sem contato físico, preenchendo os critérios de um gesto simbólico.

“Há uma hipótese de que andar sobre duas pernas permitiu que os humanos mantivessem uma postura ereta, liberando suas mãos para maior mobilidade, o que, por sua vez, contribuiu para a evolução dos gestos”, diz Suzuki. “Da mesma forma, quando os pássaros se empoleiram nos galhos, suas asas ficam livres, o que, em nossa opinião, pode facilitar o desenvolvimento da comunicação gestual.”