Os morcegos da espécie Murina ussuriensis representam uma descoberta significativa no comportamento hibernatório entre os mamíferos.
Identificados como pioneiros na hibernação em neve, estes pequenos morcegos, cujo peso equivale aproximadamente a dois cubos de açúcar, conseguem sobreviver aos rigorosos meses de inverno de uma maneira única. Sua área de habitat natural se estende desde as Ilhas Curilas até a parte sudeste da Sibéria, passando pela Coreia e Japão, onde caçam insetos e enfrentam temperaturas abaixo de zero.
Na primavera e no outono, estes morcegos se abrigam principalmente em montes de folhas mortas ou cavidades de árvores. Mas durante muito tempo, o refúgio destes animais durante os períodos frios do ano era um grande mistério. Presumia-se que eles buscavam abrigo em árvores ou fissuras rochosas e nos mesmos locais onde descançam em outras estações do ano.
Vários relatos de que estes pequenos mamíferos voadores foram encontrados descansando sob a neve levaram pesquisadores a realizar uma investigação mais aprofundada. Com a ajuda desses relatos e de pesquisas de campo, os cientistas reuniram informações de 22 observações indiretas e encontraram 37 morcegos para realizar um estudo detalhado que foi publicado na revista Scientific Reports.
Os Murina ussuriensis foram frequentemente encontrados enrolados em posição fetal, com a cabeça escondida sob a membrana da cauda, o que chegou a confundir algumas pessoas que não os identificaram como morcegos inicialmente.
No estudo os pesquisadores descartaram a idéia e que os morcegos apenas permanecessem na neve após cair de uma árvores em posição de hibernação, pois as profundidades de até 6 centímetros dos buracos na neve indicavam que seriam necessários períodos extensos para formá-los, o que não condizia com a possibilidade de um simples “afundamento”. Segundo o estudo, é muito mais provável que os morcegos tenham cavado a neve macia, formando uma pequena caverna de hibernação.
“Recolhemos os detalhes desses relatos e utilizámos as nossas próprias observações para concluir que estes morcegos hibernam na neve”, escreveram os autores. “Até onde sabemos, esta é a primeira evidência de hibernação na neve para morcegos, e a segunda para mamíferos, seguindo os ursos polares (Ursus maritimus) que se abrigam na neve.”
Medições termográficas mostraram que esses morcegos apresentavam temperaturas superficiais corporais baixas, que subiam momentos antes de voarem ao anoitecer.
“A superfície da neve é mais macia e mais leve nessa época do ano, de modo que os morcegos conseguem facilmente fazer uma pequena cavidade na neve”, escreveram os autores. “A duração do confinamento de um morcego dependeria da quantidade de neve que se acumula acima dele e do tempo que a neve leva para derreter. Portanto, pode durar apenas alguns dias ou continuar por mais de meio ano.”
Destacam-se três vantagens primordiais dessa estratégia de hibernação na neve: a retenção de água é maximizada enquanto estão protegidos pelo gelo, há uma redução na probabilidade de predação, visto que poucos predadores buscam por comida na neve e, além disso, o isolamento térmico é mais estável em comparação com as cavidades das árvores.
A descoberta fornece uma compreensão importante na adaptação dos morcegos ao ambiente inóspito, demonstrando uma incrível capacidade de sobrevivência. Assim como os ursos polares, que também hibernam na neve, os morcegos Murina ussuriensis revelam um comportamento que desafia a resistência das criaturas endotérmicas aos desafios do inverno.