Na correria do dia-a-dia, a busca por praticidade e economia tem aberto espaço significativo para produtos industrializados em nossas refeições. Contudo, essa tendência tem um preço: a perda de receitas tradicionais, sabedoria ancestral e preparações artesanais. Além disso, a rica biodiversidade do Brasil, tão celebrada mundialmente, nem sempre está presente em nossos pratos.
Em resposta a essa mudança cultural, o movimento Slow Food Internacional criou a Arca do Gosto. A Arca é um catálogo de alimentos que estão em risco de desaparecer tanto cultural quanto biologicamente.
Com mais de 6.162 ingredientes catalogados ao redor do mundo, incluindo 235 brasileiros, a lista continua crescendo. Mas, por que esses ingredientes desaparecem? Além das ameaças óbvias como desmatamento, pesca predatória e urbanização, temos também o esquecimento de ensinamentos ancestrais e legados culinários.
O desinteresse das novas gerações
Uma das principais causas para a extinção de alimentos tradicionais são as novas gerações. Segundo Maísa Mota Antunes, nutricionista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), elas estão menos interessadas em aprender sobre receitas antigas.
Há também uma tendência crescente de valorizar produtos estrangeiros em detrimento dos regionais. Além disso, a ingestão de alimentos ultraprocessados tem aumentado, principalmente entre crianças e adolescentes.
Alimentos Brasileiros na Arca do Gosto
Infelizmente, alguns alimentos brasileiros já fazem parte dessa lista, demonstrando a importância de valorizá-los e resgatar suas características únicas. Entre eles, podemos citar:
- Batata-doce roxa: um alimento rico em potássio e carboidratos, além de conter antioxidantes benéficos para a saúde.
- Pitanga: uma fruta vermelha rica em carotenoides, que auxiliam na saúde dos olhos.
- Queijo da Canastra: um tesouro mineiro, feito com leite cru, que precisa se adequar às normas sanitárias para preservar sua tradição.
- Pinhão: semente da araucária, com valor cultural e gastronômico, que requer práticas sustentáveis devido à ameaça de extinção das florestas de araucárias.
- Pimenta-rosa: uma especiaria naturalmente encontrada no Brasil, principalmente na região da Mata Atlântica, que precisa ser protegida do desmatamento e incentivada em seu extrativismo sustentável.
- Castanha de baru: símbolo do cerrado brasileiro, rica em ferro e zinco, que requer práticas sustentáveis para evitar sua extinção.
- Palmito juçara: palmito retirado de uma palmeira nativa da Mata Atlântica, que está ameaçado devido ao extrativismo clandestino.
- Pequi: conhecido como “ouro do cerrado”, oferece diversos nutrientes e gorduras benéficas para a saúde. Movimentos e cooperativas estão trabalhando para proteger essa espécie.
- Ora-pro-nóbis: uma planta alimentícia não-convencional rica em vitaminas, sais minerais e proteínas, que tem sido utilizada como cerca viva em várias cidades.
- Goiabada cascão: um doce típico brasileiro que está desaparecendo das cozinhas devido à praticidade versão industrializada.
- Ajuína: umaida cristalina considerada Patrimônio Cultural Brasileiro, que sido substituída por refrigerantes e outras bebidas industrializadas12.
- Pirarucu: um peixe da Amazônia que precisa ser preservado por meio de leis de proibição da pesca durante o período de reprodução e conscientização das comunidades ribeirinhas.
- Sequilho: uma iguaria tradicional do nordeste brasileiro que está desaparecendo devido à oferta de versões industrializadas.
Esses alimentos representam uma parte valiosa da nossa cultura culinária e têm características únicas que devem ser preservadas. É essencial valorizar a biodiversidade brasileira e promover a variedade na alimentação, resgatando sabores tradicionais e conhecimentos ancestrais.
A Arca do Gosto é uma porta de entrada para essa valorização, incentivando ações que envolvem cozinheiros, merendeiras, cooperativas e pequenos produtores em prol de uma alimentação saborosa e nutritiva.