Há uma relação direta entre a arborização urbana e a diminuição da sensação térmica; ou seja, a ‘simples’ presença de árvores diminui o calor nas cidades, seja de forma direta, pelo fornecimento de sombras, seja indiretamente, por conta da transpiração.

Além disso, as árvores fornecem benefícios variados, como valor estético, redução de ruído, qualidade da água e do ar, habitat para espécies e mais. Aliviar o efeito das ilhas de calor nas cidades, sobretudo em metrópoles, pode até evitar mortes, segundo um estudo europeu.

Em uma entrevista, o engenheiro florestal alemão, Tim Christophersen, falou sobre o plano audacioso de plantar 1 trilhão de árvores. A iniciativa partiu da empresa Salesforce, uma potência global do software corporativo que faturou US$ 31,4 bilhões no ano passado.

One Trillion Trees – o plano ambicioso envolvendo árvores

Tim Christophersen com 15 anos de experiência na ONU, aceitou a proposta de emprego na Salesforce após seu envolvimento no plano de reflorestamento One Trillion Trees, lançado em parceria com o Fórum Econômico Mundial em janeiro de 2020 cujo objetivo é mobilizar organizações para plantar ou conservar 1 trilhão de árvores ao redor do mundo até 2030.

Tim Christophersen. Imagem: Reprodução/Reset

Assumiu o cargo de vice-presidente de Ação Climática em maio de 2022, visando influenciar o setor privado em direção à sustentabilidade. Apesar da nobreza das iniciativas voluntárias corporativas, Christophersen destaca a importância da regulamentação para efetivas ações climáticas.

Perguntado sobre o que é o projeto Um Trilhão de Árvores, Christophersen disse que antes da revolução agrícola, o mundo possuía aproximadamente 6 trilhões de árvores. Com o avanço urbano e a agricultura, metade dessa cobertura florestal foi perdida, resultando em significativa perda de carbono e biodiversidade. Diante de uma policrise ecológica, a Amazônia corre o risco de se tornar uma savana se o desmatamento não for controlado.

A meta ambiciosa de plantar um trilhão de árvores recebeu apoio de 103 empresas, cada uma com compromissos distintos. A Salesforce, por exemplo, busca restaurar 100 milhões de árvores, ainda faltando o plantio de 55 milhões até o final da década.

Destacando a importância de escolher a árvore certa para o momento, local e contexto social adequados, o foco vai além do sequestro de carbono. Projetos como Acción Andina, que restaura áreas nas altitudes da Cordilheira dos Andes com polylepis, contribuem não apenas para o carbono, mas também para a vitalidade de comunidades, preocupadas principalmente com a escassez de água.

Reflorestamento custa caro

Do ponto de vista financeiro, Christophersen explica que a natureza é a maneira mais eficaz e econômica de restaurar florestas, mas é crucial incorporar as pessoas no processo. Construir um caso de negócios que possa utilizar créditos de carbono como catalisador é essencial.

Ademais, há opções de receita como sistemas agroflorestais e exploração de madeira. Na Salesforce, existem recursos disponíveis, incluindo uma equipe de filantropia, um fundo de justiça climática de US$ 100 milhões, e um fundo dedicado à iniciativa de 1 trilhão de árvores, que já investiu cerca de US$ 15 milhões.

Remoção do carbono

Imagem: Canva

Christophersen não descarta o uso da tecnologia para remover o carbono. Ele explica que “Temos a cabeça aberta em relação à tecnologia, obviamente, mas o mercado [de remoções baseadas em sistemas de engenharia] ainda é muito caro e muito difícil de escalar. Já a natureza tem 3,5 bilhões de anos de pesquisa e desenvolvimento. Temos que aproveitar. Dito isso, temos privilegiado os créditos de carbono jurisdicionais [que cobrem uma jurisdição inteira, como um Estado, por exemplo].”

Próprio exemplo

Christophersen plantou 30 mil árvores na fazenda em que vive, na Dinamarca. Sobre a experiência, ele afirma que “Boa parte das terras estavam arrendadas para um produtor de leite que faliu no ano passado e que tinha um modelo industrial. Plantei cerca de 30 mil árvores, de 26 espécies nativas, e estou planejando sistemas de agrossilvicultura, junto com pastoreio de ovelhas. Mas gostaria de fazer isso no Brasil: você vê uns projetos que depois de cinco anos já têm árvores de 20 metros de altura! As minhas estão mais ou menos assim (Christophersen aponta cerca de um metro). Então para mim e para minha mulher é mais um projeto intergeracional.””