Um evento curioso chamou a atenção dos moradores da pequena cidade de Nederland, estado do Colorado, nos EUA, ganhando também destaque internacional: o mais longo esforço de criogenia humana amadora já registrado. O caso de Bredo Morstøl, carinhosamente chamado de “Vovô Bredo”, impressiona por diversos aspectos.
O principal deles é o fato de que seu corpo permaneceu congelado por mais de 30 anos em gelo seco dentro de um galpão Tuff. Ao que parece, Morstøl foi uma cobaia para os experimentos de imortalidade de seu neto.
Tudo começou em 1980
Em 1980, quando Trygve Bauge, neto do Vovô Bredo, deixou a Noruega e foi para Nederland, Colorado, esse caso já começava a tomar forma. Bauge era um entusiasta do sobrevivencialismo, clonagem, banho de gelo e criogenia, tudo isso com uma pitada de anarquia libertária.
Nos Estados Unidos, ele decidiu ficar sem solicitar um visto. Nove anos depois, quando seu avô faleceu, Bauge teria transferido o corpo para uma instalação de criogenia na Califórnia chamada Trans Time, onde o corpo do vovô Bredo permaneceu em nitrogênio líquido por cerca de quatro anos.
No entanto, Bauge tinha planos de construir sua própria instalação de criogenia em casa. Em 1993, ele transferiu o corpo de seu avô para Nederland, colocando-o em uma grande caixa cheia de gelo seco dentro de um galpão. Para manter essa instalação improvisada, Bauge contratou a empresa local Delta Tech, que reabastecia o gelo seco a cada duas semanas, ao custo de aproximadamente US$ 1.000 por mês.
Do ponto de vista biológico, mesmo que a criogenia fosse eficaz, as várias mudanças de local provavelmente teriam causado danos significativos ao corpo do Vovô Bredo.
Além disso, a criônica é uma tecnologia avançada que consiste em congelar corpos e cérebros humanos na esperança de que possam ser revividos no futuro. Contudo, não há certezas de que o Vovô Bredo, ou as muitas pessoas que passaram por esse procedimento nas melhores condições, voltarão a ter vida.
Venki Ramakrishnan, Ph.D. biólogo estrutural britânico-americano e autor de Why We Die, afirma que “Assim que uma pessoa morre, suas células começam a passar por todos os tipos de mudanças […] Elas ficam sem oxigênio. Elas começam a enviar sinais de alarme. Elas começam… o processo de decomposição. Há muitos danos naturais que ocorrem do ponto da morte ao ponto do congelamento… não sabemos como reverter isso.”
Argumentos contra a criogenia
Ramakrishnan, que foi um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Química em 2009, dedicou um capítulo inteiro de seu livro para criticar os esforços de extensão da vida humana através da criogenia. Segundo ele, o congelamento do corpo provoca a deterioração dos tecidos, pois a água se expande ao congelar, destruindo as estruturas ao seu redor.
Para mitigar esses problemas, as instalações de criônica adotaram práticas específicas. No laboratório de criogenia da Alcor, em Scottsdale, Arizona, onde mais de 230 “pacientes” foram recebidos desde 1972, os médicos substituem todo o sangue do corpo por um fluido criopreservante logo após a morte, explica James Arrowood, presidente e co-CEO da Alcor.
Esse fluido é composto por proteínas de peixes que habitam águas frias como as da Antártida. Conforme a National Science Foundation, essas proteínas baixam o ponto de congelamento do sangue e dos fluidos corporais, impedindo a formação de cristais de gelo e protegendo o corpo dos danos causados pelo congelamento.
Alcor
Depois de várias reviravoltas, o corpo do Vovô Bredo foi para a Alcor. Porém, dado tudo pelo que passou, Ramakrishnan acredita que o Vovô Bredo provavelmente sofreu danos graves em seu cérebro e em outras partes do corpo.
Ademais, ele tinha quase 90 anos quando faleceu. Portanto, embora possa parecer bem conservado para alguém que está morto há mais de 30 anos, se fosse descongelado, seu corpo provavelmente se decomporia rapidamente.
Bauge parece ter aceitado essa realidade. Agora, ele está considerando uma segunda opção para alcançar a imortalidade de seu avô: a clonagem.