Imagine sentir-se bêbado sem ter bebido nada. Acredite, mas um considerável número de pessoas passa ou já passou por isso. A Síndrome da autocervejaria, ou síndrome da fermentação intestinal, é uma condição médica considerada rara. Os portadores da condição produzem grandes quantidade de etanol no sistema digestivo graças a leveduras ou bactérias.
A condição é bastante rara e pouco falada no meio popular e no ambiente médico.
Até o diagnóstico, muita coisa pode acontecer ao paciente envolvendo quedas, acidentes de trânsitos ou outros problemas e sintomas relacionados à embriaguez, além de problemas no corpo e na mente pelo excesso de álcool sendo produzido no corpo. Essas quedas e acidentes podem ser perigosíssimos e até mesmo fatais.
“Os pacientes com ABS sofreram consequências médicas e não médicas devastadoras. Há relatos anteriores de um paciente que sofreu um sangramento cerebral de uma queda que ocorreu durante a intoxicação por ABS. Além disso, incluindo nossos pacientes, vários pacientes tiveram que se afastar do trabalho e alguns deles perderam seus empregos como resultado dessa síndrome”, disse o Dr. Rahel Zewude, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Toronto.
O Dr. Zewude liderou um estudo de caso sobre uma mulher de 50 aos diagnosticada com a síndrome da fermentação intestinal. A mulher foi várias vezes à emergência com sintomas como os de uma pessoa bêbada, incluindo cheiro de álcool, mas por motivos religiosos ela não bebia há anos. Por fim, após diversas visitas em um período de dois anos, ela foi encaminhada para especialistas e diagnosticada com a condição.
Antes de alguém desconfiar da síndrome rara, entretanto, ela estava recebendo medicações para curar o vício em álcool e sendo avaliadas por psiquiatras. Isso demonstra o viés que essas pessoas sofrem antes do correto diagnóstico.
A síndrome da autocervejaria foi descrita, inicialmente, em 1948. O caso ocorreu quando um menino precisou passar por uma cirurgia abdominal de emergência. Durante a cirurgia, o cirurgião percebeu um cheiro de álcool saindo de seu estômago, e como sabia-se que o garoto não havia bebido nada alcoólico, suspeitou-se que uma batata-doce que o garoto comera mais cedo fermentou sem seu estômago, produzindo o álcool.
Causas e tratamentos da síndrome da autocervejaria
A síndrome da autocervejaria ocorre por um desequilíbrio na flora intestinal. As bactérias ou leveduras que fermentam carboidratos em álcool desenvolvem uma população muito grande no intestino da pessoa, gerando o infeliz efeito.
“Acredita-se que o ABS ocorra em parte devido à interrupção do microbioma intestinal, onde os fungos que fermentam o álcool se tornam o organismo predominante no intestino, à frente de outras bactérias não fermentadoras. Essa interrupção do microbioma intestinal pode ocorrer como resultado de cursos frequentes ou prolongados de antibióticos”, disse Zewude.
Além da causa do desiquilíbrio na flora do intestino causada por ciclos de antibióticos, fatores genéticos e doenças gastrointestinais, como doença de Crohn podem ser fatores de riscos para o desenvolvimento da condição.
O diagnóstico não é tão simples, pois é difícil saber de trata-se o paciente de um dependente alcóolico ou não.
“Não há algoritmos diagnósticos padronizados disponíveis para a síndrome da fermentação intestinal e anos de atraso para o diagnóstico são comuns. Quando há suspeita de síndrome da autocervejaria, o quadro diagnóstico inclui a realização de uma anamnese (do paciente e de contatos próximos), exame físico, hemograma, teste de provocação com glicose e avaliações microbiológicas. Um questionário de triagem CAGE deve ser realizado e os níveis de etanol e enzimas hepáticas no sangue devem ser medidos”, explicaram os médicos no texto do estudo de caso.
Embora rara, o tratamento é simples. Após diagnosticada a condição e identificado se o fermentador é uma bactéria ou fungo, inicia-se medicações antibióticas ou antifúngicas, a depender do patógeno, e uma dieta pobre em carboidratos (low carb), já que os carboidratos são justamente o combustível da fermentação que gera o etanol.