Em uma descoberta que está redefinindo o conhecimento sobre as primeiras civilizações humanas, arqueólogos anunciaram que os assentamentos mais antigos do mundo, que se acreditava serem obra de sociedades agrícolas, foram na verdade construídos por uma cultura de caçadores-coletores.
Os sítios arqueológicos de Amnya, localizados próximo a uma curva do Rio Amnya na Sibéria Ocidental, têm desafiado percepções anteriores sobre as sociedades pré-agrícolas graças a novas descobertas que datam suas fortificações como algumas das mais antigas já encontradas. Um estudo publicado na revista Antiquity indica que esses assentamentos fortificados remontam 8.000 ou 11.000 anos atrás, muito antes de se presumir que a agricultura possibilitasse o estabelecimento de aldeamentos permanentes.
Os sítios de Amnya I e II demonstram um modo de vida engenhoso dos habitantes da taiga da Sibéria Ocidental, uma floresta de coníferas por vezes pantanosa tipicamente subártica. Nesse ambiente, grupos caçadores-coletores encontravam fartura de recursos, incluindo manadas de alces, renas e rios abundantes em peixes como lúcios e salmões.
O sítio de Amnya I, revelado a partir de 1987 e datado por radiocarbono mais recentemente, apresenta estruturas de moradia e defesa completas com trincheiras e fortificações datadas do último século do sétimo milênio antes de Cristo. Analises sujascentes mostraram que no sexto milênio antes de Cristo, foram adicionadas mais duas valas e um conjunto de edifícios, taludes e cercas, mostrando um período de ocupação mais constante.
Arqueólogos de uma equipe internacional, liderados por pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, sugerem que os sítios de Amnya I e II não apenas hospedavam, mas também protegiam excedentes de alimentos como óleo de peixe, peixe e carne defumados e armazenados. A presença de cerâmicas intrincadamente decoradas reforça essa hipótese, pois poderiam ser recipientes para tais alimentos. Embora não esteja claro se os locais estavam habitados ou defendidos durante todo o ano, eles foram, sem dúvida, o ponto de assentamento de um grupo de caçadores-coletores em certas épocas do ano.
Esta região do mundo revelou outros fortes da Idade da Pedra, no entanto, nenhum se compara à antiguidade do sítio de Amnya I. Na Europa, locais similares surgem apenas séculos mais tarde e depois do advento da agricultura.
Os pesquisadores argumentam contra a suposição tradicional de que as comunidades de forrageamento não possuíam a complexidade social ou política necessária para construir estruturas monumentais permanentes que exigissem manutenção ou defesa. Investigações em andamento no promontório de Amnya e em outros sítios arqueológicos pelo mundo indicam que a prática de cultivar ou criar animais não são os únicos incentivos para a construção dessas estruturas.
Por exemplo, Göbekli Tepe, na Turquia moderna, é um grande complexo de pedras construído por volta de 11.000 anos atrás, anterior ao surgimento da agricultura. Acredita-se que ele foi utilizado como local de rituais sagrados ou funerários. Da mesma forma, montes chamados de “kholmy”, encontrados no sítio de Amnya, são considerados estruturas rituais de grande escala na paisagem.
Estudos indicam que uma mudança climática há aproximadamente 8.000 anos propiciou uma abundância de recursos sazonais na Sibéria Ocidental, resultando em um influxo de migrantes humanos. O desenvolvimento de estratégias de caça e pesca, ou o avanço na armazenagem de alimentos, podem ter levado a um superávit de alimentos que demandava proteção. A acumulação desses recursos pode ter levado a mudanças na estruturação político-social das populações e ao surgimento de desigualdades de riqueza, direitos de propriedade exclusiva e maior coesão comunitária, como sugerido pelo trabalho em conjunto nas construções monumentais.
O trabalho arqueológico em Amnya prossegue, e os pesquisadores sustentam a necessidade de reavaliar os conceitos tradicionais relacionados a comunidades de caçadores-coletores nos textos acadêmicos, tendo em vista as descobertas recentes.