A Antártica, é o maior deserto do mundo. Entretanto, isso não quer dizer que o continente gelado não seja interessante. Com 138 vulcões na Antártica, descobriu-se recentemente que o continente é uma das maiores regiões vulcânicas do planeta.

Até 2017, conhecia-se 47 vulcões na Antártica. Naquele ano, um estudo encontrou, pela primeira vez, 91 novos vulcões na área. O artigo foi publicado no periódico Geological Society.

“Identificamos 138 vulcões, 91 dos quais não foram identificados anteriormente, e que estão amplamente distribuídos pelas bacias profundas da Antártica Ocidental, mas estão especialmente concentrados e orientados ao longo do eixo central de >3000 km do Sistema de Fenda Antártica Ocidental”, disseram os pesquisadores no artigo.

Na conclusão do estudo, os pesquisadores dizem:

“A presença de um cinturão vulcânico que atravessa as bacias marinhas mais profundas abaixo do centro do manto de gelo da Antártica Ocidental pode ser uma grande influência no comportamento passado e na estabilidade futura da camada de gelo”.

Então, em outras palavras, os pesquisadores dizem que esses vulcões poderiam entrar em erupção?

Os vulcões na Antártica podem ser um problema?

No artigo, os autores argumentam que não conseguiram concluir se os vulcões são ativos, embora boa parte deles sejam relativamente jovens.

“A partir deste estudo, não podemos determinar se os diferentes vulcões estão ativos ou não; no entanto, a identificação de múltiplos novos edifícios vulcânicos, e o melhor sentido regional de sua dispersão geográfica e concentração ao longo das WARS, podem orientar futuras investigações de sua atividade”, diz a equipe de cientistas no artigo.

De todos os mais de cem vulcões, apenas dois têm seus status conhecidos: o Deception Island e o Monte Erebus.

Deception Island, a ilha onde está um dos vulcões na Antártica em atividade. Imagem: European Union, Copernicus Sentinel-2 imagery

O vulcão em Deception Island entrou em erupção pela última vez em 1970. O monte Erebus, por sua vez está em erupção contínua desde 1972.

“Uma de suas características mais interessantes é o lago de lava persistente que ocupa uma de [suas] crateras de cume, onde material derretido está presente na superfície”, disse Conor Bacon, pesquisador da Universidade de Columbia, em uma entrevista ao portal Live Science. “Na verdade, isso é bastante raro, pois requer que algumas condições muito específicas sejam atendidas para garantir que a superfície nunca congele.”

Além disso, há algumas fumarolas que liberam gases e vapor pelo continente, o que indica uma certa atividade magmática na região. Entretanto, não sabe-se se algum deles poderia entrar em erupção em um futuro próximo, embora eles estejam sob monitoramento dos cientistas.

VRIES M. et al disseram, no estudo que fora citado, que pesquisas realizadas na Islândia mostraram um aumento na produção de magma em resposta a um afinamento na cobertura de gelo, já que esse afinamento propiciou uma descompressão no manto abaixo.

“Além disso, há evidências de que, em todo o mundo, o vulcanismo é mais frequente em regiões desglaciantes, pois a pressão de sobrecarga do gelo é primeiro reduzida e depois removida”, explicam os pesquisadores.

“Olhando para o futuro, o afinamento e a potencial remoção da cobertura de gelo da província vulcânica WARS podem ter impactos profundos para a atividade vulcânica futura em toda a região”, diz a equipe.

Estudos futuros

Para se entender melhor sobre uma possível atividade vulcânica na região, os cientistas precisam instalar novos equipamentos de monitoramento sísmico na região, pois a rede de análise no continente é pequena.

“De tempos em tempos, os pesquisadores implantarão redes mais extensas de instrumentos para realizar estudos específicos, mas isso naturalmente vem com um grande número de desafios logísticos quando comparado aos muitos, muito mais acessíveis, vulcões em outros lugares do mundo”, disse Bacon.

Além disso, o continente é muito inóspito, e as estruturas para a sobrevivência humana também precisam melhorar e ser expandidas para se entender melhor os vulcões na Antártica.