O mundo já enfrenta uma crise sanitária alarmante e com potencial gigantesco ainda mais preocupante: as superbactérias. O problema consiste, em termos gerais, à alta resistência a múltiplos antibióticos – inclusive aos medicamentos modernos – que algumas cepas de bactérias desenvolvem por conta do uso incorreto e excessivo de antibióticos disponíveis. Caso nada seja feito, a partir de 2050, 10 milhões de pessoas por ano podem perder a vida em decorrência disso.

Nesse viés, uma nova preocupação envolvendo bactérias suscitou o estudo relacionado à capacidade de algumas bactérias sobreviverem a ambientes hostis e até fora do planeta.

Bactérias representam riscos à segurança de astronautas

Recentemente, cientistas que estudam micróbios descobriram que certos tipos de bactérias são muito resistentes. Elas conseguem viver em lugares bastante hostis, com condições muito desfavoráveis, tanto na Terra quanto no espaço.

Essas bactérias foram encontradas em lugares onde há muita radiação, muito sal, calor extremo ou quase nada de água. Além disso, algumas delas foram encontradas fora da estação espacial, e outras até mesmo em pedaços de meteoritos.

Desse modo, as descobertas despertaram preocupações sobre a segurança dos astronautas que viajam para destinos como Marte. Se bactérias da Terra fossem levadas para lá, seja nos próprios astronautas ou nos equipamentos que transportam, isso poderia resultar em doenças graves ou até mesmo em morte.

No estudo recente, publicado na revista Astrobiology, a equipe de pesquisa buscou entender se as bactérias da Terra teriam condições de sobreviver às condições ambientais de Marte.

Teste de possibilidade

O grupo formado por especialistas internacionais em radiação, biologia e doenças infecciosas realizou a pesquisa e descobriu não apenas uma, mas quatro variedades de bactérias capazes de resistir à exposição às condições desafiadoras do planeta vermelho.

Para investigar a possibilidade, os pesquisadores montaram um ambiente simulado de Marte em uma caixa dentro de seu laboratório. Este ambiente incluía um substituto de regolito (material rochoso marciano), temperaturas frias, uma atmosfera desprovida de oxigênio e exposição à radiação.

Em seguida, introduziram quatro variedades de bactérias, uma de cada vez: Serratia marcescens, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae e Burkholderia cepacia. Todas essas bactérias são reconhecidas por sua capacidade de causar infecções danosas em seres humanos.

Respostas variáveis

Cada uma das quarto variedades de bactérias foi testada a cada uma das situações simuladas em laboratório. Depois, foram submetidas a todas as condições simultaneamente.

Os resultados mostraram uma variedade de respostas: por exemplo, a B. cepacia não conseguiu prosperar em um solo rico em perclorato de sódio, uma condição que poderia ser encontrada em Marte.

Além disso, a diminuição significativa da quantidade de água no ambiente teve um impacto negativo na capacidade de sobrevivência das bactérias.

Contudo, os pesquisadores também observaram que todas as quatro variedades conseguiram sobreviver em certa medida quando expostas a todas as adversidades que Marte poderia oferecer.

Três delas conseguiram sobreviver por 21 dias, enquanto uma delas, a P. aeruginosa, não apenas sobreviveu, mas também pareceu se reproduzir e prosperar sob as condições desafiadoras.

Mutações

Imagem: Canva

De acordo com o estudo,

A saúde dos astronautas durante viagens espaciais a novos corpos celestes no Sistema Solar é um fator crítico no planeamento de uma missão. Apesar dos protocolos de limpeza e descontaminação, microrganismos da Terra foram e serão identificados em naves espaciais […] Nossa pesquisa mostrou mudanças no crescimento e sobrevivência dessas espécies na presença de percloratos, sob condições de dessecação, exposição à radiação ultravioleta e exposição à composição e pressão atmosférica marciana. Além disso, nossos resultados demonstram que o crescimento foi aumentado pela adição de um simulador de regolito marciano ao meio de crescimento. Pesquisas futuras adicionais são necessárias para examinar possíveis mudanças na infectividade, patogenicidade e virulência dessas espécies com exposição às condições marcianas.

Dito isso, caso as bactérias da Terra forem levadas para Marte, elas poderiam se adaptar e se tornar mais resistentes às condições hostis do planeta, tornando-as potencialmente mais perigosas para os seres humanos.

Essas bactérias poderiam causar doenças ou infecções nos astronautas que exploram Marte, representando assim uma séria ameaça à saúde humana durante futuras missões espaciais e, claro, limitando explorações e descobertas.