O mundo atual não tem mais espaço – no que diz respeito à saúde ambiental – para continuar queimando combustíveis fósseis como forma de obtenção de energia. Nesse contexto, a revolução energética é cada vez mais urgente e esperada. Embora na prática ela pareça distante, pode acontecer muito em breve, tendo em vista o enorme potencial energético que a própria Terra possui.

Cientistas estão pretendendo revelar globalmente o poder da maior bateria do mundo que vem das ondas do oceano, um recurso natural poderoso e muito pouco aproveitado, ainda.

Potencial energético do oceano

Conforme a Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos, o potencial energético anual das ondas que quebram ao longo da costa norte-americana é estimado em cerca de 2,64 trilhões de quilowatts-hora. Isso corresponde a aproximadamente dois terços de toda a energia gerada pelas concessionárias no país em 2021.

Ainda que seja impraticável aproveitar essa energia em sua totalidade, a força das ondas pode ser uma contribuição significativa, representando entre 10% e 20% da energia renovável utilizada nos Estados Unidos.

Além de fornecer energia para a rede elétrica, os conversores de energia das ondas, conhecidos como WECs, têm outros usos. Empresas como a C-Power, com sede no Oregon, estão desenvolvendo tecnologias que permitem levar tanto energia quanto uma conexão ethernet para o ambiente oceânico. “[O oceano] é a nossa maior, melhor e mais flexível bateria que temos”, destacou o CEO da empresa, Reenst Lesemann.

Energia das ondas: um contexto histórico

A captura de energia das ondas começou a ganhar atenção apenas na década de 1970, em resposta à Crise do Petróleo de 1973, quando o Reino Unido, buscando alternativas energéticas, passou a investir nessa área.

Esse embargo petrolífero, que afetou os Estados Unidos durante a guerra árabe-israelense, impulsionou o interesse por fontes renováveis. Um dos pioneiros dessa pesquisa foi Stephen Salter, professor de engenharia na Universidade de Edimburgo.

Ele desenvolveu um dispositivo inovador, os “patos de Salter”, que eram flutuadores com um formato peculiar, projetados para se moverem com as ondas, aproveitando a energia do movimento da água.

As ideias de Salter e seus flutuadores inovadores não atingiram o sucesso almejado, mas certamente abriram caminho para o desenvolvimento futuro da energia das ondas, plantando as primeiras sementes de uma possível revolução energética nesse campo.

PacWave 

Uma ilustração da instalação da PacWave South perto de Newport, Oregon.

Após as tentativas e fracassos de empesas como Wavebob, Pelamis, Aquamarine e muitas outras, a PacWave tem se comprometido a reformular o que se entende por capturar energia por meio do oceano.

PacWave é composta por duas instalações de testes: uma ao norte e outra ao sul. A instalação ao norte, já em operação, é destinada a testar protótipos menores em águas rasas, localizada próxima ao porto e sem conexão com a rede elétrica continental.

A instalação ao sul, prevista para operar em 2025, será onde acontecerão os principais testes, com capacidade para hospedar até 20 conversores de energia das ondas.

Incertezas

O PacWave é um campo de testes para tecnologias inovadoras, onde muitas questões ainda precisam ser respondidas. Não se sabe exatamente quais conversores de energia das ondas (WECs) serão mais eficientes na geração de energia, nem qual será o impacto dessas máquinas nos ecossistemas marinhos ao redor.

Como aponta Dan Hellin, vice-diretor da PacWave, “o problema é que existem poucos dispositivos de energia das ondas em funcionamento no mundo, e, por isso, há escassez de pesquisas sobre eles.” Um dos objetivos da PacWave é justamente monitorar a instalação desses dispositivos e começar a responder a essas perguntas, que só podem ser abordadas com experimentos reais em ambiente marinho.

Quando finalmente a PacWave South entrar em operação em 2025, os quilowatts gerados não ficarão limitados a testes de laboratório. Conectado diretamente à rede local e operado pelo Central Lincoln Peoples Utility District (PUD), o projeto fornecerá energia para os moradores de Newport.

Isso permitirá aos desenvolvedores avaliar a competitividade da energia das ondas em relação a outras fontes. Em sua capacidade máxima, a PacWave poderá abastecer cerca de 2.000 residências, uma produção modesta, mas com um grande potencial de impacto futuro.