Guerras por água podem sim, em um determinado tempo, ocorrer. As mudanças climáticas podem trazer uma série de sintomas desagradáveis para o seres vivos no planeta Terra, causando um verdadeiro apocalipse para a humanidade.

Um desses sintomas pode se a perda do acesso fácil à água potável. Com isso, existe uma linha tênue entre ficções científicas distópicas e o provável futuro inconveniente do nosso planeta – a Terra. Nesse cenário, guerras por água não estariam tão distantes da realidade.

Pensando nessa distopia que pode vir a se tornar uma realidade antes mesmo de notarmos, o professor assistente da Universidade Estadual do Colorado, Patrick Keys, lidera uma equipe com uma ideia um tanto quanto peculiar.

A equipe de Keys é composta, basicamente, por cientistas pelo mundo cujos campos de pesquisa são relacionados à água.

Os pesquisadores utilizaram narrativas para criar visões não muito interessantes do futuro que a Terra pode enfrentar em breve. Por meio dessas histórias, então, eles podem utilizar a ciência para analisar as consequências dos cenários. Essa mistura de criatividade com o raciocínio lógico (ou de arte com ciência) pode, então, trazer resultados interessantes para o debate científico.

“As sociedades humanas estão mudando onde e como a água flui através da atmosfera. No entanto, essas mudanças no ciclo da água atmosférica não estão sendo gerenciadas, nem há uma noção real de para onde essas mudanças podem estar indo no futuro”, disseram os pesquisadores em um artigo publicado na Global Sustainability.

Imagem: Patrick Keys/Fabio Comin

“Assim, desenvolvemos uma nova teoria econômica do manejo da água atmosférica e exploramos essa teoria usando cenários criativos baseados em histórias. Esses cenários revelam possibilidades surpreendentes para o futuro da gestão da água atmosférica, que vão desde um mercado de ações para transpiração até o clima sob demanda. Discutimos esses futuros baseados em histórias no contexto da pesquisa e das prioridades políticas nos dias atuais”, explica a equipe.

Cinco etapas para as “guerras por água”

Os pesquisadores realizaram o estudo em cinco etapas.

Na primeira etapa, ocorreu uma pesquisa bibliográfica estruturada. Com os textos recolhidos, eles os converteram em textos simples, sem marcas d’água e outros padrões que pudessem atrapalhar a leitura computadorizada.

Na segunda etapa, os pesquisadores utilizaram sistemas de machine learning para analisar os textos por meio de palavras-chave. Para cada tópico que seria analisado, se as palavras-chave representassem menos de 1% do total de termos no texto, ele seria automaticamente excluído da lista.

Na terceira etapa, os tópicos foram interpretados pelo conteúdo semântico das palavras-chave.

A quarta etapa foi um treino dos especialistas em água na produção de cenários baseados em histórias.

A quinta etapa enfim envolveu a construção do mundo imaginário. As histórias de ficção científica foram construídas, gerando um total de dez textos. Os textos deveriam envolver cenários distópicos além de 2050. Após isso, ocorreu a contação de histórias entre os participantes do projeto.

Água subterrânea está sendo bombeada de forma tão agressiva em todo o mundo que a terra está secando, guerras civis estão sendo travadas e a agricultura está sendo transformada. Imagem: Manish Swarup

Assim, os cenários apresentaram possibilidades plausíveis, baseadas em opiniões de especialista e milhares de títulos científicos consultados na internet com uma filtragem computadorizada.

O futuro da água no planeta

“A humanidade está transformando o ciclo da água atmosférica, principalmente por meio das mudanças climáticas e do uso da terra em grande escala. O advento da semeadura de nuvens cientificamente verificável pode acelerar ainda mais a absorção da manipulação da água atmosférica em um futuro próximo”, diz a equipe no artigo.

Os cenários renderam possibilidades para o futuro que vão desde guerras por água, até uma imensa capitalização desse item tão essencial para a vida.

“Nossos cenários retratam futuros familiares e estranhos. Isso inclui mundos detalhados com personagens que exploram questões como uma bacia amazônica dominada não pelo desmatamento, mas pela negociação de futuros de transpiração; privatização sob demanda que pode ser acionada via aplicativo; terras secas transformadas para fornecer pontes de umidade continental; e, esforços internacionais de coordenação da gestão da água comum atmosférica”.