Uma equipe de pesquisadores revelou a descoberta de uma série de cidades antigas, anteriormente cobertas por vegetação densa o Vale Upano, no Equador.
O estudo que se extendeu em 20 anos de trabalho de campo e mapeamento LIDAR avançado foi publicado na última quinta-feira (11 de Janeiro) na revista Science e revela uma extensa rede de assentamentos, derrubando suposições de longa data sobre as paisagens urbanas pré-colombianas na Amazônia.
“Explorei o local muitas vezes, mas o LIDAR me deu outra visão do terreno”, disse o arqueólogo Stéphen Rostain, principal autor do estudo e diretor de pesquisa do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica (CNRS), ao Live Science. “A pé, você vê árvores no caminho, e é difícil ver o que realmente está escondido ali.”
A civilização descoberta, que se enraizou há cerca de 2.500 anos, apresenta uma grande variedade de tamanhos de assentamentos, com atividade de construção atingindo o pico entre 500 AEC e 600 DEC. Pelo menos 15 locais distintos foram mapeados, ligados por estradas consideráveis e retas e marcados por plataformas e praças retangulares uniformes. Estas estruturas de barro, em número de cerca de 6.000, desafiam a falta de recursos de pedra da região, sendo um testemunho da engenhosidade dos seus construtores.
Cobrindo cerca de 300 quilometros quadrados, as imagens da pesquisa com o LIDAR revelaram uma paisagem repleta de atividades humanas organizadas: estas incluíam mais de 6.000 plataformas retangulares de terra, bem como terraços agrícolas e sistemas de drenagem, refletindo uma profunda integração do desenvolvimento urbano com a paisagem natural.
A equipe de pesquisa acredita que essas estruturas formaram pelo menos 15 assentamentos distintos, conectados por um sistema de estradas largas e retas. As teia de ruas, que foram cuidadosamente construídas para se cruzarem em ângulos retos, em vez de seguirem a paisagem, revelam complexidade desta sociedade.
Estas descobertas acrescentam substância aos relatos históricos de conquistadores que encontraram vastas cidades à sua chegada, histórias que antes eram rejeitadas, mas que agora ganham credibilidade com provas. A história do explorador britânico Percy Fawcett, que desapareceu em 1925 enquanto procurava a mítica “Cidade Perdida de Z” no Brasil, ressoa novamente à medida que essas ruínas se alinham com cidades tão lendárias.
“Tal descoberta é outro exemplo vívido da subestimação da dupla herança da Amazônia: ambiental, mas também cultural e, portanto, indígena. Como muitos outros, acreditamos que é crucial revisar completamente nossos preconceitos sobre o mundo amazônico e, ao fazê-lo, reinterpretar contextos e conceitos à luz necessária de uma ciência inclusiva e participativa”, escrevem os autores do estudo em sua conclusão.