A literatura brasileira foi enriquecida por notáveis vozes femininas ao longo de sua história. Desde o período colonial até os dias atuais, escritoras de talento singular deixaram suas marcas indeléveis em nossa cultura letrada.

Nomes como Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Rachel de Queiroz são frequentemente lembrados por leitores e críticos como expoentes da prosa e poesia nacional. Suas obras, de profunda introspecção psicológica e aguda observação social, permanecem objetos de estudo e admiração.

No campo da poesia, destacam-se figuras como Cecília Meireles, com sua lírica etérea e filosófica, e Cora Coralina, cuja obra tardia revelou uma voz única e poderosa.

A literatura contemporânea também conta com notáveis representantes femininas, que continuam a expandir os horizontes da escrita nacional com perspectivas inovadoras e temas prementes de nosso tempo.

Uma lista definitiva das “maiores escritoras brasileiras” seria inevitavelmente subjetiva e incompleta. No entanto, é inegável a contribuição fundamental das autoras presentes nesta lista para o rico panorama das letras brasileiras.

1. Clarice Lispector

Clarice Lispector, nascida Chaya Pinkhasivna Lispector, é uma das escritoras mais importantes da literatura brasileira. Nascida na Ucrânia em 1920, imigrou para o Brasil com apenas dois anos de idade. Desde então, desenvolveu uma carreira notável e influente nas letras brasileiras.

Seus romances, contos e crônicas exploram temas profundos e introspectivos. Obras como Perto do Coração Selvagem (1943), O Lustre (1946) e A Paixão Segundo G.H. (1964) são exemplos de seu estilo único e inovador. Ela também escreveu literatura infantil, enriquecendo ainda mais seu legado literário.

Clarice estudou Direito e trabalhou como jornalista, o que a fez viajar para diversos países. Apesar de sua formação, foi através das palavras que mais se destacou. Clarice é celebrada por sua habilidade extraordinária de explorar a psique humana com uma prosa poética e sensível.

Sua importância na literatura brasileira não pode ser subestimada. Ela trouxe um novo olhar para a escrita, sendo frequentemente comparada a grandes nomes da literatura mundial. Sua naturalização brasileira foi um presente para o país, e seu trabalho continua a ser estudado e admirado até hoje, mesmo depois de sua morte, em 1977.

2. Cecília Meireles

Cecília Meireles, nascida em 1901 no Rio de Janeiro, foi uma das mais notáveis poetas do Brasil. Sua obra poética é caracterizada por um estilo íntimo e musical, que não se filia a nenhum movimento literário específico. Ela explorou temas sociais e psicológicos com profundidade e sensibilidade.

Meireles também se destacou como ensaísta, cronista e folclorista. Além disso, ela atuou como educadora e tradutora, sempre promovendo a literatura e a cultura brasileira. Sua dedicação à educação é evidente em sua carreira como professora.

Entre seus trabalhos mais conhecidos, o livro “Romanceiro da Inconfidência” se sobressai, combinando história e poesia de forma magistral. Sua habilidade para tratar de questões complexas com uma linguagem acessível e poética a tornou uma autora querida e admirada.

Cecília Meireles faleceu em 1964, mas seu legado continua vivo. Sua obra influenciou e continua a influenciar muitas gerações de leitores e escritores.

3. Lygia Fagundes Telles

Lygia Fagundes Telles nasceu em 19 de abril de 1923, em São Paulo, e faleceu em 3 de abril de 2022. Ela é uma das mais importantes escritoras brasileiras. Sua carreira literária começou cedo, com a publicação de seu primeiro livro de contos.

Ela foi uma figura destacada no movimento Pós-Modernista no Brasil. Além disso, era membro da Academia Paulista de Letras e da Academia Brasileira de Letras.

Entre suas obras mais conhecidas, estão “As Meninas” e “A Noite Escura e Mais Eu”. Essas obras receberam grande reconhecimento e prêmios. Lygia ganhou quatro prêmios Jabuti, o mais prestigiado prêmio literário brasileiro.

Em 2005, recebeu o “Prêmio Camões”, considerado o mais importante da literatura em língua portuguesa. Sua habilidade em explorar temas humanos complexos a tornava uma autora singular.

4. Rachel de Queiroz

Rachel de Queiroz foi uma das figuras mais proeminentes da literatura brasileira do século XX. Nascida em Fortaleza em 1910, ela despontou como uma das principais vozes do Modernismo de 1930. Sua obra abrange romances, crônicas e peças de teatro, sempre com um olhar crítico e sensível sobre a sociedade.

Em 1930, publicou seu primeiro romance, “O Quinze”, que aborda a seca no Nordeste brasileiro e ganhou o prêmio da Fundação Graça Aranha. Este livro é até hoje uma referência em literatura regionalista e marcou sua entrada definitiva no cenário literário.

Rachel foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras em 1977 e a primeira a receber o Prêmio Camões em 1993.

Como jornalista e tradutora, Rachel contribuiu para o enriquecimento cultural do Brasil. Seu trabalho permanece influente, mesmo depois de sua morte em 2003, refletindo as dificuldades e as resistências do povo nordestino.

5. Hilda Hilst

Nascida em 1930 na cidade de Jaú, interior de São Paulo, Hilda Hilst é uma das escritoras mais importantes da literatura brasileira do século XX. Com uma carreira que abrange poesia, teatro e prosa, sua obra é marcada por uma linguagem única e provocativa.

Hilst explorou temas profundos e controversos, como a existência humana, a sexualidade e a morte. Sua capacidade de provocar e questionar cativou muitos leitores e críticos.

Entre suas obras mais conhecidas estão “Da Poesia”, “Tu não te moves de ti” e “A Obscena Senhora D”. Cada uma dessas obras revela a complexidade de sua visão de mundo e seu domínio estilístico.

A escritora conquistou uma base de leitores fiéis e vem sendo redescoberta recentemente.

Hilst também é lembrada por sua personalidade forte e vida reclusa. Ela passou os últimos anos de sua vida no interior de São Paulo, na Casa do Sol, cercada por livros e natureza, onde faleceu em 2004.

6. Maria Firmina dos Reis

Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís, Maranhão, em 11 de março de 1822. Ela é reconhecida como a primeira romancista negra do Brasil. Além de escritora, foi professora e musicista. Ela também criou a primeira escola mista do Brasil, algo inovador para a época.

Em 1859, Maria Firmina dos Reis publicou “Úrsula”, o primeiro romance abolicionista do Brasil. O livro abordou os horrores da escravidão, denunciando os maus-tratos sofridos pelos negros. Sua literatura é uma voz de denúncia e indignação contra a opressão.

A importância de Maria Firmina dos Reis vai além da literatura. Ela foi uma pioneira na educação, dedicando-se ao ensino e promovendo a inclusão. Seu trabalho como educadora refletiu seus ideais progressistas e humanistas.

Firmina faleceu em Guimarães, Maranhão, em 11 de novembro de 1917. Suas obras e legado continuam a ser estudados e valorizados.

7. Carolina Maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em 1914, em Sacramento, Minas Gerais. Mulher negra e semianalfabeta, ela desafiou as dificuldades impostas pela sociedade.

Foi catadora de papelão, trabalho que sustentava sua família. Vivia na favela do Canindé, em São Paulo, onde começou a escrever seus diários.

Em 1960, lançou seu primeiro livro, “Quarto de Despejo”, que se tornou um sucesso imediato. O livro retrata a realidade cruel da favela, com uma linguagem direta e emotiva.

Carolina usava a literatura como uma forma de expressar suas experiências e angústias. Seus escritos trazem um olhar crítico sobre questões sociais e raciais no Brasil.

Apesar das dificuldades, ela se destacou como uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do país.

Carolina faleceu em 1977, mas seu legado literário permanece vivo.

8. Adélia Prado

Adélia Luzia Prado de Freitas nasceu em 13 de dezembro de 1935, em Divinópolis, Minas Gerais. Poeta, professora, filósofa, romancista e contista, ela é uma figura central no Modernismo brasileiro. Sua escrita é marcada por uma combinação de linguagem coloquial e profunda crítica social.

Autora de diversos livros de poesia, Adélia Prado é conhecida por transformar o dia a dia em arte. Em seus versos, ela celebra o cotidiano feminino, ressignificando e ampliando a percepção dos pequenos momentos.

Seu livro “Bagagem”, publicado em 1976, é uma de suas obras mais notáveis. Nele, a autora explora temas como amor, espiritualidade e vida doméstica, tudo com uma sensibilidade única. Esta obra apresentou ao grande público a riqueza lírica e a profundidade da sua visão poética.

Em 2024, Adélia Prado recebeu o Prêmio Machado de Assis, promovido pela Academia Brasileira de Letras.

Muitas vezes descrita como uma romântica crítica, Adélia Prado também é conhecida por suas reflexões filosóficas. Sua capacidade de tornar o cotidiano universal, político e social é uma marca registrada de seu trabalho poético.

Através de sua poesia, Adélia tenta transmitir novos pontos de vista sobre o cotidano, muitas vezes ressignificando a vida comum. Sua obra continua a influenciar e encantar leitores de todas as idades.

9. Nélida Piñon

Nélida Piñon nasceu no Rio de Janeiro em 1934. Ela se tornou a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras.

Seu romance de estreia, “Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo”, publicado em 1961, chamou a atenção de críticos e leitores. A partir daí, sua obra continuou a impressionar pela profundidade e originalidade.

Piñon escreveu sobre temas complexos e universais, criando personagens densos e tramas cativantes que desafiam o leitor. Obras como “A República dos Sonhos” demonstram seu talento único e sua habilidade de entrelaçar ficção e realidade de forma magistral.

A literatura de Nélida Piñon sempre teve um caráter reflexivo, levando os leitores a questionarem suas próprias vidas e sociedades. Sua influência se estende não apenas no Brasil, mas internacionalmente, sendo uma das autoras brasileiras mais traduzidas.

A paixão de Piñon pela narrativa começou cedo, como ela mesma descreve: “os livros, as páginas que eu lia… me traziam uma emoção extraordinária”.

10. Ana Maria Machado

Ana Maria Machado, nascida em 1941, é carioca publicou mais de 120 livros, abrangendo tanto a literatura infantil quanto a adulta.

Ela começou sua carreira como pintora, jornalista e professora universitária antes de se dedicar à escrita. Sua obra é amplamente reconhecida, tanto no Brasil quanto no exterior, com mais de 20 milhões de exemplares vendidos.

Além de ser uma escritora prolífica, Ana Maria Machado foi a primeira autora de livros infantis a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Presidiu a instituição entre 2011 e 2013, consolidando ainda mais sua influência no mundo literário brasileiro.

Entre suas obras mais conhecidas estão “Bisa Bia, Bisa Bel” e “Do Outro Lado da Rua”. Cada livro de Ana Maria Machado explora temas como amizade, amor e descoberta, encantando leitores de todas as idades.

Seu trabalho não é apenas popular, mas também premiado. Ela recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira, entre eles, três Jabutis e um Machado de Assis da ABL.

11. Helena Morley

Helena Morley, pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant, nasceu em Diamantina, Minas Gerais, em 28 de agosto de 1880. Foi uma escritora notável pela sinceridade e vividez de suas descrições.

Seu diário, publicado em 1942 sob o título “Minha Vida de Menina”, retrata a sociedade mineira do final do século XIX. O livro cobre os anos de 1893 a 1895, mostrando a vida cotidiana em Diamantina.

A obra de Helena Morley é singular por seu tom espontâneo e observação apurada. Suas anotações revelam uma jovem curiosa e crítica, oferecendo um panorama autêntico da vida interiorana no Brasil.

A publicação do diário foi um marco na literatura brasileira, sendo saudada por críticos e leitores. O livro não apenas documenta a juventude de uma menina, mas também preserva a história cultural e social do período.

Helena Morley faleceu em 20 de junho de 1970, no Rio de Janeiro, deixando um legado literário valioso. Seu único livro continua a ser uma leitura essencial para quem deseja entender a história e a sociedade do Brasil do século XIX.

12. Cora Coralina

Cora Coralina, pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nasceu em 20 de agosto de 1889 na Cidade de Goiás. Ela foi uma poetisa e contista brasileira, que começou a publicar suas obras somente após os 70 anos de idade. Antes disso, viveu uma vida simples como doceira no interior.

Seus poemas refletem o cotidiano e a cultura goiana, com uma simplicidade que tocou muitas pessoas. Ela descreveu como ninguém os “becos de Goiás” e a vida do povo goiano. Esse aspecto é tão significativo que Goiás se tornou Patrimônio Cultural Mundial em dezembro de 2001 pela UNESCO.

Sua obra inclui livros como “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais” e “Meu Livro de Cordel”. Ela ganhou vários prêmios ao longo de sua carreira, incluindo o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Goiás e o Troféu Juca Pato em 1984, sendo a primeira escritora a recebê-lo.

Cora Coralina foi admitida na Academia Goiânia de Letras, onde ocupou a cadeira número 38. Em frente à sua residência na Cidade de Goiás, existe uma estátua em sua homenagem. Ela faleceu em 10 de abril de 1985.

13. Marina Colasanti

Marina Colasanti nasceu em Asmara, na Eritreia, em 26 de setembro de 1937. É uma das mais reconhecidas escritoras ítalo-brasileiras. Sua obra é vasta, abrangendo contos, poesias, crônicas, ensaios e literatura infantil.

Ela chegou ao Brasil em 1948, aos 11 anos, e desde então contribui significativamente para a literatura brasileira. Suas obras são marcadas por uma forte ligação com aspectos humanos e sociais.

Publicou mais de 70 livros, que encantam crianças e adultos. Alguns de seus títulos mais famosos incluem “Quando a Primavera Chegar” e “Uma Ideia Toda Azul”.

Marina é ganhadora de diversos prêmios literários. Entre eles, destaca-se o Prêmio Jabuti, o Machado de Assis da ABL e o Prêmio Portugal Telecom de Literatura. Além disso, recebeu o Prêmio da Biblioteca Nacional para Poesia.